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Gonçalo Baptista Vieira – Barão de Aquiraz |
No dia do golpe dado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, a política cearense era disputada por quatro grandes facções oligárquicas: os Liberais Pompeus, liderados por Antônio Pinto Nogueira Accioly; os Liberais Paulas, dirigido pelo conselheiro Antônio Joaquim Rodrigues Junior, e que era então a ala política mais poderosa do Ceará; os Conservadores Miúdos ou Carcarás, liderados pelo octogenário Gonçalo Batista Vieira – o Barão de Aquiraz – e os Conservadores Graúdos ou Ibiapinas, capitaneados pelos igualmente idosos Joaquim da Cunha Freire – o Barão da Ibiapaba – e Domingos José Nogueira Jaguaribe – o Visconde de Jaguaribe, que morreria em 1890.
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Barão da Ibiapaba Domingos Jaguaribe |
Nas eleições para o senado de maio de 1889 – as últimas do Império – os Conservadores Miúdos estavam aliados aos Liberais Paulas, e os Graúdos aos Pompeus. Com o regime republicano os velhos partidos foram extintos, de modo que os grupos oligárquicos foram momentaneamente afastados do governo.
Os republicanos históricos tomaram o poder, sendo confirmados no comando da província pelo governo central. Os primeiros anos da República no Ceará foram marcados por muita instabilidade, agitação, troca de governantes e práticas de atos ilógicos e cômicos.
A notícia da Proclamação da República chegou por telégrafo, no final da tarde do dia 15 de novembro. O Ceará era então governado pelo coronel Jerônimo Rodrigues de Moraes Jardim, no poder havia apenas um mês.
Ao tomar conhecimento da notícia, o presidente promoveu reuniões com os comandantes das forças militares, auxiliares e chefes políticos locais, pedindo o auxílio de todos para a manutenção da ordem pública. Chegou a enviar um telegrama ao primeiro ministro do Império, solicitando esclarecimentos, do qual, obviamente, não obteve resposta.
Moraes Jardim foi convidado a aderir à república, mas relutou talvez em razão de não acreditar que o Império pudesse cair tão facilmente, como os fatos davam a entender.
No dia 16, oficiais do 11° Batalhão de Infantaria, alunos do Colégio Militar e membros do Centro Republicano se reuniram na Praça dos Mártires (atual Passeio Público) para garantir a adesão do Ceará ao novo regime – deliberaram pela deposição do presidente Moraes jardim.
A aglomeração, sob o olhar curioso e espantado da população de Fortaleza, deslocou-se a seguir em direção ao palácio do governo.
Os republicanos, tendo à frente uma bandeira vermelha carregada por um espanhol de má fama chamado Catalão, por onde passavam, quebravam as insígnias reais e placas de ruas com nomes ligados à Coroa, aos gritos de Viva a República, Viva a França! Ao som de uma banda de música tocando a Marselhesa e com muitos fogos de artificio.
Para aqueles exaltados republicanos cearenses, a Proclamação da República era como uma Revolução Francesa nos trópicos. Chegando à sede do governo, a multidão intimou o último presidente monarquista do Ceará a entregar o poder, ao que Moraes Jardim não ofereceu nenhuma resistência.
Depois por indicação do major Manuel Bezerra de Albuquerque, professor do Colégio Militar, foi indicado para governar a província Luís Antônio Ferraz, comandante do 11° Batalhão. Alguns republicanos mais entusiastas protestaram contra essa escolha – afinal Ferraz fora um leal servo da monarquia, inclusive alguns dias antes havia sido convidado a ajudar a causa republicana, tendo recusado e ainda vociferado palavrões e maldições contra os republicanos.
Mas os entusiastas nada puderam fazer porque eram os militares que possuíam as armas do golpe. Desinformado sobre o que se passava no Rio de Janeiro, a então capital federal, ignorante da forma de governo que se estabelecia, o presidente Ferraz organizou o “Governo Provisório do Estado do Ceará da Confederação da República do Brasil”. Nomeou uma comissão executiva para auxiliá-lo, que tinha forma e status de ministério.
No dia 18 de novembro de 1889 chegou um telegrama enviado pelo ministro do governo federal Aristides Lobo, comunicando a nomeação de João Cordeiro para a presidência do Ceará. Cordeiro, sem saber bem o que fazer, respondeu ao governo federal que recusava a tal nomeação, pois já havia sido aclamado e empossado o Coronel Ferraz.
Aristides Lobo e outro ministro, Rui Barbosa, passam novo telegrama, dizendo que ficava sem efeito a aclamação, devendo ele, João Cordeiro, sem demora, tomar posse do governo. Diante de uma nova recusa de Cordeiro, o jeito foi o governo central aceitar Ferraz como governador do Ceará, sendo este efetivado oficialmente a 1° de dezembro de 1889.
Os republicanos históricos que sonharam ardorosamente em chegar ao controle do Ceará recusaram a oportunidade e deixaram o comando do Estado nas mãos de um simpatizante da monarquia.
fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias
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