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Nascido de olhos d’água, a menos de 5 quilômetros da praia e
despejando-se no mar,  o riacho Pajeú
dividia a vila em dois bairros. Na sua margem direita e em direção ao nascente,
elevava-se o planalto do Outeiro da Prainha, com seus sítios carregados de
coqueiros, de onde se descortinava, do alto e ladeira abaixo, a orla ensolarada
da vila banhada pelas águas do 
Atlântico. 

Fortaleza+-+Forte+Schoonenborch+-+1 Na Força das Águas
 Forte Schoonenborch, construído pelos holandeses e transformado em N. s. da Assunção pelos portugueses

Do outro lado do riacho ficava a Colina da Misericórdia, onde
foi levantada a fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Ao seu redor, em terras
ligeiramente acidentadas e protegidas pelos bastiões do forte, crescia o
comércio, o centro administrativo e o primeiro bairro residencial de Fortaleza
que, a partir de 1823 adquiria foros de cidade. 
Partiam da vila em diversas
direções as Estradas do Cocó e de Jacarecanga, assim como os antigos caminhos
que levavam aos aldeamentos indígenas: o de Soure (Caucaia), o de Paupina
(Messejana) e aquele que se voltava para os sertões dirigindo-se para o Caminho
de Arronches (Parangaba).

Logradouros e casarões contam a história de Fortaleza,
desvelando famílias que por ali viveram e marcaram a crônica da cidade em
diferentes épocas, pelo seu destaque na vida econômica, política e social.
Dirigindo-se ao caminho de Arronches, através de crônicas antigas, velhos
casarões evocam um caleidoscópio de imagens de pessoas e fatos que promoveram a
construção da cidade. Dominando logradouros
com suas imponentes fachadas, essas antigas moradas – registro de uma época –
alinharam e deram nomes ás ruas. Em seus festivos salões, iniciou-se o cultivo
da sociabilidade requintada, antecedendo a formação dos grandes clubes e a
história elegante de Fortaleza. 

pra%C3%A7a+clovis+bevilaqua3A Na Força das Águas

Praça Clóvis Beviláqua – anos 20/30 

A colina da Praça de Pelotas, hoje Clóvis Beviláqua marcava
o início do Benfica. As águas deste elevado desciam e, juntando-se às mais
volumosas que vinham da Lagoinha, formavam na atual Praça do Coração de Jesus,
a Lagoa do Garrote.
Pelas encostas do Outeiro, ocupadas depois de um grande
espaço de tempo, pelo bairro da Aldeota, baixavam córregos que se juntavam ao
Pajeú. Acrescido dessas águas, corria o riacho livremente, deslizando por seu
vale tortuoso com seu movimento regulado pelas forças vivas das lagoas do
Garrote e da Lagoinha. 

Cidade+da+Crian%C3%A7a+-+1934 Na Força das Águas

Parque da Liberdade – Cidade da Criança – 1934

O bairro do Garrote nasceu de aterros e construções na Lagoa
do Garrote. Em homenagem à abolição da escravatura, as últimas águas dessa
lagoa foram represadas, criando ali o Parque da Liberdade. Construído pelo
engenheiro Romualdo de Carvalho Barros e auxiliado por Isaac Correia do Amaral,
o parque mudou de nome no tempo do centenário da Independência, passando a se
chamar de Parque da Independência, para mais tarde ser reconhecido pelo seu
primeiro nome. Popularmente, no entanto, é chamado de Cidade da Criança, desde
que ali se instalou em 1937, uma escola dirigida pela professora Alba Frota. O
Largo do Garrote, agora Praça dos Voluntários, comunicava-se livremente com o
Parque da Liberdade até 1939, quando se formaram dois logradouros distintos, depois
da construção nesta passagem, da sede própria do Clube Iracema.  

casa+de+maximiano Na Força das Águas
casa onde residiu Maximiano Leite Barbosa, na Rua Solom Pinheiro ao lado do Parque da Liberdade. Ali funcionou a Biblioteca Pública do Estado, hoje é a sede da Associação Beneficente Cearense de Reabilitação – ABCR
 

Maximiano Leite Barbosa, pai do fundador do
ideal Clube, residiu em um palacete que ladeava o Parque da Liberdade. Herdado
por sua filha Maria Luiza, o imóvel já abrigou a Biblioteca Pública do Estado, e
é ocupado atualmente pela Associação Beneficente Cearense de Reabilitação.  Outros membros da família ocupavam os casarões
vizinhos, e alinhado a estes, está a casa onde nasceu o ex-presidente Humberto
de Alencar Castelo Branco. 

casa+castelo+branco Na Força das Águas
 casa na Rua Solon Pinheiro em frente ao Parque da Liberdade onde nasceu o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco

No largo do garrote, circundado por  três alinhamentos de casas sombreadas por frondosas
castanholeiras e mangueiras, encontrava-se uma das principais residências dos
meados do século, o palacete de Vitoriano Augusto Borges. Em 1873 esta
residência foi adquirida pelo Tesouro provincial para instalação do antigo
Liceu do Ceará. Um pouco mais adiante, seguindo o movimento das águas,
margeando o Pajeú na esquina do Beco do Pocinho, situava-se a chácara do
português Manuel Caetano de Gouveia, que exerceu enorme influência econômica e
social em Fortaleza. Nesta chácara localizava-se o famoso Cajueiro do Fagundes,
que em tempos coloniais serviu de ponto de venda  do açougueiro Fagundes.  O Comendador Manuel Caetano de Gouveia deu
origem á família Gouveia em Fortaleza.

Igreja+da+S%C3%A9+-+1914 Na Força das Águas
 Igreja da Sé 1914

Descendo o riacho Pajeú, deparava-se com a cidade velha, sua
Matriz no meio da Praça do Conselho, onde hoje se encontra a  Catedral Metropolitana, e em frente dessa, o
pelourinho. Por ali passava a Rua da Matriz, que se seguia com o nome
de Rua dos Mercadores, concentrando o comércio. Atualmente estas duas vias são
as Ruas Conde D’Eu e Sena Madureira. 

Pra%C3%A7a+Caio+Prado+-+detalhe+do+Cruzeiro+da+Catedr Na Força das Águas
Praça da Sé, 1915

Defronte a matriz havia um alinhamento de
casas, antigas moradas dos capitães-mores. Com sua demolição surgiu o Largo da Matriz, hoje Praça da Sé, onde se ergue a estátua de bronze de Dom Pedro II,
inaugurada em 1913. O traje envergado pela estátua, esculpida em Paris, pelo
francês Mailard, utilizou como modelo a farda de gala do Almirante Alexandrino
de Alencar, figura de relevo da Marinha Nacional, sobrinho-neto de Bárbara de
Alencar.

Por trás desse monumento Pedro Augusto Borges ergueu sua
residência, onde posteriormente seria instalada a Pensão Bitú. Nesta pensão se
hospedariam os membros da Comissão da American Carnegie Institution, que vieram
ao Ceará observar, na cidade de Sobral o eclipse solar de 29 de maio de 1919,
de importância para o estudo da Teoria da Relatividade de Einstein. 

extraído do livro
 Ideal Clube, História de uma Sociedade, de Vanius Meton Gadelha Vieira
fotos antigas do Arquivo Nirez

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mfgprodema@yahoo.com.br

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