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Joaquim da Costa Nogueira
é considerado um dos maiores exemplos de dedicação ao magistério na história do
Ceará. Contribuiu durante toda a vida na formação de personalidades que mais
tarde teriam influência na vida política e social do Estado. Dirigiu por trinta
anos o antigo Instituto de Humanidades, transformado em seguida no Colégio
Nogueira. No Liceu do Ceará ensinou Desenho, conquistando o corpo discente por sua
simplicidade e pelos processos criativos que motivaram a pesquisa.


igreja+de+s%25C3%25A3o+pedro+1913+instituto+de+humanidades Joaquim Nogueira, o educador do Ceará
Alunos do Instituto de Humanidades em visita a Igreja de São Pedro dos pescadores, localizada no Mucuripe.

Entre os alunos que
tiveram influência na formação escolar, destacam-se Haroldo Juaçaba, Armando Falcão,
Autran Nunes, Antônio Carlos Campos de Oliveira, Ruy Simões de Menezes, Marcos
Botelho, Juarez Ellery Barreira, José Raimundo Costa e João Ramos de
Vasconcelos. Reuniu ainda em seu colégio, professores de porte como Paulo
Sarasate, Plácido Castelo, Djacir Menezes, Perboyre e Silva e Clodoveu
Cavalcante.

  
Joaquim Nogueira nasceu a
28 de dezembro de 1866, em Aquiraz, filho do major Joaquim da Costa Nogueira e
de Mariana de Freitas Nogueira. Estudou as primeiras letras na escola pública
de Pacatuba, fez os preparatórios no Liceu e cursou dois anos da faculdade de
Direito do Recife. A morte do pai, em 1889, obrigou Nogueira a retornar ao
Ceará.


De acordo com o historiador
Barão de Studart, Joaquim Nogueira exerceu várias funções na época: almoxarife
de gêneros do Governo, desenhista da Comissão de Açudes em Quixadá, tabelião e
diretor dos Colégios São Luís e Baturiteense, em Baturité. Em 15 de janeiro de
1904 fundou em Fortaleza o Instituto de Humanidades. Autor de livros didáticos,
teve seu livro “Ano Escolar”, adotado oficialmente pelas escolas de ensino
público do Ceará.


No dia 28 de outubro de
1914, o professor Nogueira foi abalado pelo assassinato de seu único filho,
José de Mendonça Nogueira, aos 22 anos, fruto de seu casamento com Olivia de Mendonça
Nogueira. Com o abalo emocional, o professor paralisou por quatro anos as
atividades do Instituto de Humanidades. Em 1918 voltou a ensinar, instalando
curso de aulas primárias, transformado depois em Colégio Nogueira.


clube+dos+diariosA Joaquim Nogueira, o educador do Ceará
o filho do professor Joaquim Nogueira, José de Mendonça Nogueira, foi assassinado nas dependências do Clube dos Diários, localizado no Palacete Guarany, na antiga Rua Formosa,no dia 28 de outubro de 1914.  

A partir da perda do
filho, o professor Nogueira passou a usar somente roupas pretas, deixando ao
mesmo tempo, crescer a barba. Apesar de tudo, seguiu em frente no novo
estabelecimento que preparava os alunos para ingresso no Liceu do Ceará. O alto
índice de aprovação obtido pelo colégio repercutia em toda a cidade. Ao aposentar
do Liceu do Ceará deixou de ministrar aulas particulares em 1933. Por iniciativa
dos advogados João Hipólito e Edson Carvalho Lima, o colégio foi reaberto em
1937. Em seguida a direção passou para o professor Aloisio Ferreira, e por fim,
a Clodomir Teófilo, originando o Colégio Rui Barbosa.


instituto+de+humanidades Joaquim Nogueira, o educador do Ceará
Prédio onde funcionou o Instituto de Humanidades, na Rua da Assembleia, atual Rua São Paulo. 


A aposentadoria do
professor Joaquim Nogueira foi marcada por acusações injustas, o que agravou seu
estado de saúde. O Monsenhor José Quinderé, colega de magistério do Liceu,
narra em suas reminiscências o escândalo que resultou na descoberta da
falsificação numa caderneta de notas.
“Encontrei a alteração de
um 2, que havia dado ao aluno, a lápis, transformado em 9, a tinta, mas na pressa
da falsificação, esqueceu-se o interessado de apagar o pescoço e rabisco do 2. Pensei
em tomar qualquer providência, para castigo do audacioso. Refleti, porém, por
alguns momentos e resolvi guardar silêncio, com receio de recuar ante os
pedidos que haviam de aparecer, pois a falta era grave”.


O Monsenhor Quinderé
conta que, posteriormente, a mesma coisa se fez na caderneta de Desenho do
professor Nogueira. Tinha ele o cuidado de registrar numa caderneta particular,
de bolso, a nota que dava no livro de chamada. Conversou com o monsenhor a esse
respeito, muito indignado, e disse que estava decidido a requerer inquérito. Era
na interventoria de Carneiro de Mendonça, que despachou o requerimento nomeando
o austero João Hippolyto de Azevedo e Sá, para instaurar o inquérito, o qual
por cautela, traz um escrevente de sua confiança. Resultado: apurou-se que o
autor da falsificação fora o próprio professor Nogueira, que como todos sabiam,
seria incapaz de tamanha indignidade, de maneira alguma se podia atribuir ao velho
professor aquela farsa, completa Monsenhor Quinderé. 


predio+do+liceu Joaquim Nogueira, o educador do Ceará
prédio do Liceu na Praça dos Voluntários. O estabelecimento funcionou nesse local entre 1894 e 1935, quando mudou-se para o bairro Jacarecanga. 



Escreve ainda José
Quinderé que o interventor publicou decreto com vários considerandos. Em um
deles dizia que, “tratando-se de um cidadão que prestou relevantes serviços à
instrução pública estadual, resolvi não demiti-lo a bem do serviço público, mas
aposentá-lo com o tempo de serviço que se apurar”. Nogueira foi acometido de
violento choque traumático, perdeu a fala e morreu logo depois. O seu
falecimento ocorreu no dia 21 de julho de 1936. 
A história não registrou o nome do beneficiário da fraude. 


Extraído do livro
A História do Ceará passa
por esta rua, de Rogaciano Leite Filho.

Revista do Instituto do Ceará – 1966 
fotos: revista do Instituto do Ceará e arquivo Nirez 

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