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Na pequena Fortaleza do final do século XIX o prestígio social, político, econômico ou financeiro de um cidadão que residisse em determinada rua ou travessa era o quanto bastava para que essa via pública viesse a ficar conhecida. Assim o logradouro era conhecido não pelo seu nome, mas por que fulano ou sicrano morava ali.
O costume era tão arraigado entre a população que até os responsáveis pelas procissões davam ciência dos itinerários através de publicações na imprensa, comunicando que a procissão passaria em frente à casa de pessoas conhecidas da população.

Um exemplo desse hábito corrente na Capital é o anúncio publicado no jornal “A Constituição” pelo vigário interino da catedral sobre o percurso da procissão de encerramento
do mês mariano de 1864:

Hoje às 4h da tarde sairá em procissão a imagem da Santíssima Virgem conduzida pelos fiéis, cuja direção será a seguinte:
Sairá da Catedral pela Rua de Baixo,
entrará na Rua do Garrote pela travessa que existe diante da casa do Sr Cônsul Gouveia
e daí prosseguirá em direção à Praça da Municipalidade,
passará na frente da casa do Sr. Feijó,
em cuja travessa entrará em direção ao Palácio Episcopal,
prolongando-se pela rua abaixo,
voltará na quina do Senhor Cônsul Rocha Júnior,
em procura da frente do Senhor Barbosa,
e daí entrará na travessa mais próxima, que é a do Senhor Santos,
encaminhando-se à casa da Carolina,
passará na frente do Senhor Paes Pinto,
onde voltará para a Catedral da Sé.
Assinado: João Leite de Oliveira – vigário interino.
“O Sol”, jornal que fazia oposição à Câmara de Vereadores reagiu indignado a publicação do anúncio, afirmando que o fato de ruas e travessas não terem nomes escritos, nem as casa possuírem numeração, resultava na publicação de notas como aquela, como se Fortaleza fosse uma povoaçãozinha de meia xícara, onde a população se orientava
pela localização das casas de moradores notórios.
Apesar dos protestos, o costume ainda perdurou por muitos anos em Fortaleza.
A decisão de se colocar letreiros indicando a denominação das ruas e travessas foi aprovada pela câmara municipal em 18 de março de 1817. A colocação da numeração nas casas foi aprovada em 1861 e implantada anos mais tarde.

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