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Na bucólica paisagem da cidade província naquele primeiro ano da década de 1940,  alguns pontos ganhavam relevo. Um dos pontos era o bonde.
O bonde era muito mais que um veiculo de transporte coletivo. Era o espaço agitado da cidadezinha que começava a ganhar ares metropolitanos.
Democrático recebia em seus amplos bancos de madeira envernizada, cidadãos de todas as categorias: senhores em impecáveis ternos brancos de linho e humildes ambulantes com seus tabuleiros e cestos, mulheres do povo com trouxas e embrulhos pesados, estudantes, e mocinhas de boas famílias.
O bonde de Fortaleza, diferente dos de outras cidades, não tinha reboque, espaço destinado aos passageiros com cargas. Aqui ia tudo junto. Barulhentos, desarrumados, passageiros e veículos dominavam o cenário do centro da capital, a Praça do Ferreira, ruas próximas e bairros.
Em certos horários os bondes viajavam apinhados por dentro e por fora. Sim, por fora porque sempre havia um pedaço mínimo de estribo para alguém colocar a ponta do pé e agarrar-se ao balaustre e assim seguir viagem arriscadamente até sua casa, (li em algum lugar que os que viajavam assim não pagavam passagem) nos então distantes bairros de José Bonifácio, Jacarecanga, Praia de Iracema, Alagadiço e outros.
liceu+003 Fortaleza, 1941: O Liceu e a Guerra
o bonde da Jacarecanga. Nele os liceistas dos anos 40 escreveram um dos capitulos mais agitados da história do Ceará
liceu+001 Fortaleza, 1941: O Liceu e a Guerra
Festa na Cantina – um amplo galpão reservado ao recreio
Em meio ao burburinho da praça – e era assim que todos se referiam ao velho logradouro do boticário – o cenário dominado pelos bondes tinha um referencial colorido: o fardamento dos estudantes de dois dos mais tradicionais colégios da capital: o Liceu do Ceará e a Escola Normal.
Os liceistas no realce do azul; as normalistas do vermelho.
As túnicas fechadas com sete botões, com destaques azuis na extremidade inferior das mangas, os emblemas do colégio em cada ponta da gola; o quepe cáqui; as calças com duas faixas verticais azuis, em paralelo.
O colégio era misto, com muitas moças desfilando antes e depois das aulas.
As alunas da Escola Normal, futuras professoras, com suas saias vermelhas, mereciam as melhores atenções dos rapazes do Liceu, que se postavam na esquina da “Cearense”, na Rua Floriano Peixoto com Pedro Borges ou Beco dos Pocinhos, como era mais conhecido – ou defronte ao Majestic pela Rua Major Facundo, onde se iniciavam os namoros e muitos casamentos que foram ali sacramentados.

liceu+002 Fortaleza, 1941: O Liceu e a Guerra
Cena comum em Fortaleza nos anos 40. Os jovens estudantes, Liceu à frente, em movimentos de rua pela Democracia e contra o Fascismo 
Apesar dos passeios despreocupados, e das pesadas tarefas escolares, o assunto na cidade e no Liceu era principalmente sobre a grande guerra. O Brasil estava sob o Estado Novo, regime copiado do modelo fascista da Itália de Mussolini.
O governo Vargas tinha um embasamento ideológico direitista, mas a população simpatizava com a causa aliada, cujo símbolo maior era o primeiro-ministro inglês. Winston Churchill.                              
Naquele ano de 1941 o mundo estava no auge da II Guerra.
No ano seguinte, o Brasil também faria parte dela.
toinho1+001 Fortaleza, 1941: O Liceu e a Guerra
 aluno do Liceu década de 1950
Extraído do livro
O Liceu e o Bonde na paisagem sentimental da Fortaleza-Província, de Blanchard Girão.

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0 comentário

  1. Taí, gostei do visual do novo "pano de fundo"….que lindo céu azul, com nuvens brancas, bem FORTALEZA!
    Parabéns!
    Isso tudo, do post, é bom recordar: liceistas, normalistas, beco dos pocinhos,bonde pç. do Ferreira….mesmo com sauade dessa FORTALEZA!

    Boa e produtiva semana !

  2. Concordo com a Lúcia: o novo visual do blog ficou "a cara" de Fortaleza. Nem sei de onde, mas acho que conheço esse aluno do Liceu…rsrsrs

  3. Oi, "seu" Anônimo, identifique-se, para um ´"diálogo cara à cara"!

    Vai ver que esse liceista é o Blanchard,rsrssrs…

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