desordenada e sem planejamento, com grandes disparidades sociais e mais
recentemente, com especulação imobiliária. A própria formação espacial da
cidade evidenciou a questão da segregação e diferenciação social e de classes –
ou seja, áreas ocupadas por determinadas camadas sociais e com tratamento
diferenciado pelo poder público.
na periferia da cidade, especialmente nas zonas oeste e sul, nas proximidades
de ferrovias, nas estradas de acesso à cidade e nas praias. Ocorria, não raras
vezes, a ocupação de dunas e das margens de riachos e lagoas, gerando
complicações ambientais com a destruição daquelas áreas e problemas sociais com
inundações dos casebres em épocas chuvosas. Essa situação se verificava
comumente na região ribeirinha do rio Cocó, atingindo moradores do Lagamar e da
Aerolândia, antigo Campo da Aviação.
urbanização nem contavam com infraestrutura, os terrenos tinham preços mais em
conta para as massas, que em muitas oportunidades os ocupavam clandestinamente,
daí a urbanização irregular, com a propagação de lotes de tamanhos irregulares,
casas modestas e favelas, becos e ruas estreitas, tortuosas e sem saída,
inexistência de espaços públicos e áreas de lazer. Nestas áreas era comum a existência de
chafarizes com filas enormes para obter água, ou de cacimbas nos quintais, (perto de fossas), montanhas de lixo, terrenos
baldios, logradouros sem calçamento ou saneamento. A atenção do poder público
era mínima.
Na periferia, eram raros os supermercados. Os produtos
essenciais e gêneros alimentícios eram oferecidos por pequenas unidades
familiares de comércio, as bodegas. Normalmente o estabelecimento funcionava na
frente da casa, enquanto o bodegueiro e sua família moravam na parte de trás. O
sistema de pagamento era o fiado, ou seja, o freguês comprava antecipadamente,
o valor era anotado em cadernetas para ser pago quando saísse o salário.
várias fábricas se instalaram, de têxteis, de confecções e de beneficiamento de
óleos vegetais, a exemplo dos bairros Antônio Bezerra, Parangaba e, sobretudo,
na Avenida Francisco Sá, que na verdade corresponde ao conjunto de favelas do
Pirambu.
A ideia das indústrias era
aproveitar a disponibilidade de terrenos de baixo preço e explorar a farta e
barata mão-de-obra da zona oeste. As indústrias instaladas, por sua vez, atraíam
mais pessoas humildes em busca de trabalho, as quais, em virtude dos baixos
salários, dificuldades de obter moradia própria ou pagar aluguel, acabavam se
deslocando para as favelas.
trecho da zona leste, no entorno do Porto do Mucuripe, pela óbvia facilidade de
transporte. Também naquele trecho surgiram vários bairros operários e favelas,
visto que o Porto e as indústrias necessitavam de muitos trabalhadores braçais.
Com a construção do Porto do Mucuripe na década de 1930/40 e depois da Avenida Beira Mar, nos anos 1960, a zona de meretrício, até então localizada no entorno
do Arraial Moura Brasil e Poço da Draga, foi se deslocando para a área do
farol do Mucuripe (Serviluz), enquanto os pescadores eram empurrados para o alto
das dunas e para a Rua Manuel Jesuíno, onde havia sido erguida em 1945, a Vila
dos Estivadores.
A formação de favelas foi provavelmente, a única maneira dos
migrantes ficarem em Fortaleza. Normalmente, assim que chegava à cidade, o
migrante permanecia por um pequeno período em casa de amigos ou parentes.
Depois, ao resolver a questão onde morar, acabavam se fixando numa favela ou
ocupando um lote vago, erguendo casebres frágeis, geralmente de taipa, com
cobertura de zinco ou palha. Se o Estado ou particulares não criassem
problemas, a ocupação avançava, atraindo outras pessoas em situação semelhante.
Acontecia também de pessoas sem renda, instalarem seus casebres em espaços
públicos, destinados às ruas e Praças, situação em que os proprietários
vizinhos não podiam reclamar, pois seus lotes estavam livres. Esta situação criava problemas de circulação e
irritava os setores imobiliários, pela desvalorização da área, provocada pela
proximidade da invasão.
Arraial Moura Brasil e do Pirambu onde moravam, sobretudo, pescadores,
operários, e outros trabalhadores sem qualificação, onde muitas das casas ali existentes, foram erguidas
sobre as dunas.
No início dos anos 1960 acirrou-se a disputa por terras no
Pirambu. Moradores denunciavam a pressão e a violência praticadas por supostos
proprietários dos terrenos, que exigiam a saída da comunidade – na verdade, era
a especulação imobiliária na área, visto que a maioria das pessoas morava em
terrenos da União.
ligados à Igreja Católica, como o Padre Hélio Campos e ao Partido Comunista Brasileiro
(PCB), se articularam, para garantir às famílias a posse legal dos seus
pequenos lotes de terra. A 1° de janeiro de 1962, foi organizada a Marcha do
Pirambu sobre Fortaleza, com cerca de trinta mil pessoas dirigindo-se ao centro
para chamarem a atenção da sociedade e das autoridades sobre os problemas da comunidade.
abastados da cidade, não houve nenhum confronto, tratando as elites e
a Igreja de evitar qualquer ato de
radicalismo. Emissoras de rádio acompanharam o evento, a população em geral foi
convocada para participar daquele evento, por um mundo melhor, e o próprio
bispo da capital, Dom Antônio Lustosa, esteve presente. A Marcha do Pirambu foi
um sucesso – em maio de 1962, no governo do presidente João Goulart (1961-1964),
foi baixado um decreto desapropriando a área.
livro de Artur Bruno e Airton de Farias
uma breve história
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