Até a primeira metade da década de 30, a capital
cearense permaneceu com suas ruas e praças iluminadas por nostálgicos lampiões
a gás. Tudo por força da lei de 1911 que prorrogou a concessão firmada em 1865,
concedendo a Ceará Gaz Brasil esse privilégio até 1958. As diretrizes do
governo revolucionário que se implanta no Brasil em 1930 levam à revisão de
todos os contratos para prestação de serviços públicos em vigor, e nesse caso,
finalizaria os direitos da empresa de gás, antecipadamente, para 30 de junho de
1934. Foi uma reviravolta surpreendente. A prefeitura de Fortaleza, por ordem
do prefeito interino, bacharel Ubirajara Coelho de Negreiros, estabelece pelo
Edital n° 24, de 5 de julho de 1934, condições para que as firmas apresentassem
propostas de fornecimento de energia elétrica, pelo período de um ano, para
iluminação de ruas e logradouros públicos.
Antecederam a essa medida, vários
estudos alternativos. Foi recusada a proposta da Ceará Gaz de reduzir o custo
mensal do contrato, na moeda da época, de 65 para 55 contos de réis. Também já
não mais se cogitava, por desistência do proponente, a contratação do
suprimento dos 125 kw requeridos pela iluminação pública pelo valor de 50
contos. Descarta também o governo local a ideia de resolver o problema
assumindo ele próprio um serviço municipal de iluminação pública, desestimulado
pelo alto custo do investimento inicial. Restou a opção de contrato provisório
de iluminação, animado pela oferta da Ceará Light de cobrar o quilowatt a 757
réis, enquanto o consumidor particular pagava 1$200 réis pelo mesmo.
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usina no Passeio Público |
O contrato provisório favorecia a única empresa
capacitada para a prestação desse serviço, a Ceará Tramway Light and Power, que
desde 1913, por concessão em vigor até 1987, explorava os serviços de tramways
e fornecia energia elétrica aos consumidores particulares na área de Fortaleza,
atendendo ainda o setor industrial. Com estrutura administrativa e potencial de geração necessários para
ampliar seu atendimento, a Light esperava apenas que se lhe abrisse o novo
mercado de consumo. As obras de instalação da The Ceará Tramway Light and
Power, foram iniciadas em 1912, ocupando o terreno no nível do terceiro plano
do Passeio Público para montar suas usinas.
Com a obtenção dos serviços de iluminação pública, a
Light voltou a investir no seu parque de geração, adquirindo várias máquinas e
equipamentos. As mudanças ocorridas na iluminação pública, na passagem do
lampião a gás para a iluminação incandescente, foram para a cidade um salto
qualitativo no seu progresso urbano. Toda a área central e grande parte dos
bairros alcançados pelo melhoramento determinaram o aumento do consumo
residencial de energia elétrica, entre 1944 e 1946, fato que não é acompanhado
nos dois anos seguintes, notadamente em 1947, quando há crise de fornecimento
de energia em razão dos constantes defeitos nas turbinas.
O custo do combustível usado nas caldeiras, a lenha,
foi um fator crucial para a Ceará Light. Na sua fase final, o consumo diário
representava 25 vagões ferroviários de lenha, transportada do interior pela
Rede Viação cearense. Custos ascendentes foram enfrentados com os fornecedores,
dos quais o maior deles foi o lusitano José Maria Cardoso, que ficaria
conhecido pela construção de sua residência no bairro Damas, popularizada como
Casa do Português, objeto de noticiário
até na BBC de Londres, por seus excessos arquitetônicos.
desmatamento, não era ainda preocupação, visto que não eram discutidas as
questões ecológicas. Mesmo assim, no citado relatório do interventor da Light,
o problema é levantado: o efeito calamitoso do emprego desse combustível na
devastação de nossas florestas é por demais evidente, não necessitando de
demonstração.
Mundial, que reduziu as possibilidades de ligação marítima com a Europa. os graves problemas tornaram-se
insustentáveis. É esse quadro que a interventoria reconhece e atribui toda a
culpa pelas dificuldades à própria Light, que mesmo contando com justos lucros,
preferia enviá-los à sede em Londres, ao invés de aplica-los na concessionária
cearense. Numa síntese realista, o interventor descreve a situação, para que
ficasse claro que o desmoronamento do empreendimento decorreu pela natureza
própria da companhia termoelétrica e pelas condições do meio (combustível difícil
e caro; salários elevados; obrigações sociais onerosas e pobreza do meio).
Ante esse quadro de crise extrema, restou então à
direção da Ceará Tramway Light and Power, solicitar a intervenção do governo
federal como recurso para continuar operando. Efetivada a intervenção em 1° de
junho de 1946, segue-se a ela, 14 meses depois, a autorização para encampação
pelo governo municipal em ato assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, em
1948. É o fim da presença britânica nos serviços públicos na capital cearense.
do livro História da Energia no Ceará
De
Ary Bezerra Leite
fotos do livro acima citado e do Arquivo Nirez
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Parabéns pela pesquisa aprendi mais ainda sobre a história de nossa Fortaleza