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Na Fortaleza do século XIX estudar além do curso primário era privilégio quase que exclusivo das elites.  Os colégios existentes à época, eram quase todos particulares e mesmo as poucas escolas públicas existentes – como o Liceu e a Escola Normal – eram inacessíveis aos mais pobres, dado o custo do material e da manutenção de um aluno em sala de aula. 

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 escola pública de Fortaleza em foto de 1912
Havia 20 escolas públicas, sendo 4 para meninos, 7 para meninas e 11 mistas, todas dedicadas ao ensino das primeiras letras. A exceção eram  duas escolas públicas, dois pequenos prédios, atraentes pela forma elegante de suas construções e asseio, construídos, um no bairro do Outeiro da Prainha, na administração do governador Coronel Luís Antônio Ferraz, em 1890, e o outro no Boulevard Visconde do Rio Branco, na administração do Presidente Dr. José Freire Bezerril Fontenele, em 1893. As duas ministravam o curso primário. 
 

bonde Colégios de Fortaleza no Século XIX
 O Bonde do Jacarecanga, repleto de alunos com a farda do Liceu do Ceará

Os filhos das famílias ricas eram
educados nos melhores externatos da cidade, nos internatos religiosos da
capital do país e muitas vezes, em instituições no exterior, como
França, Inglaterra, Suíça, Alemanha e Bélgica. Algumas famílias optavam por
matricular os filhos aqui mesmo, onde os pais podiam fazer um acompanhamento de
perto; e a oferta de estabelecimentos de ensino era bem razoável. 

predio+do+liceu+do+ceara Colégios de Fortaleza no Século XIX
 prédio do Liceu na Praça dos Voluntários
Berço da instrução pública de
Fortaleza, o Liceu do Ceará iniciou a sistematização do ensino neste Estado a
partir de 1845. Foi instalado no casarão na Praça dos Voluntários, onde hoje se
encontra a Secretaria de Polícia e Segurança Pública. O Liceu  instituiu um curso equivalente ao do Ginásio Nacional, com duração de 7 anos, compreendendo as seguintes disciplinas: álgebra, geometria, trigonometria, mecânica, astronomia, física, química, meteorologia, mineralogia, geologia, zoologia, botânica, biologia, geografia, história universal, sociologia e moral, letras e artes,  e línguas: portuguesa, francesa, alemã, latina e grega; literatura nacional, desenho, música, ginástica, evoluções militares e esgrima. Ao aluno que obtivesse pelo menos as aprovações plenas, era conferido o título de Bacharel em Letras e Ciências. 
Ainda no século XIX, destacava-se o Ateneu Cearense,
fundado em 1863 por João de Araújo Costa Mendes. Auxiliado pro seu irmão Manuel
Teófilo Costa Mendes, transformou esse educandário particular num dos melhores
da capital. 

rua+do+seminario+foto+de+1905+atual+monsenhor+tabosa Colégios de Fortaleza no Século XIX
 Seminário da Prainha, em 1905, na antiga Rua do Seminário, atual Avenida Monsenhor Tabosa
O Seminário Episcopal instalou-se em 1864, no Outeiro da Prainha,
abrigando por gerações o cenáculo da cultura cearense. Lá o ensino era dividido em dois cursos, o Teológico e o Preparatório. No Curso Teológico os alunos eram submetidos às seguintes disciplinas: teologia oral, teologia dogmática, direito canônico, história eclesiástica, liturgia, cantochão, eloquência sagrada e escritura sagrada. No Curso Prepatório, estudava-se filosofia, física, retórica, matemática, história geral e do Brasil, geografia, francês, latim, gramática portuguesa, catecismo, história sagrada, civilidade e música vocal.

colegio+da+imaculada+com+1+andar+e+a+igreja+do+pequeno+grand Colégios de Fortaleza no Século XIX
  Colégio da Imaculada Conceição, com um pavimento em 1905. Ao lado, a Igreja do Pequeno Grande
Dirigido pelas freiras francesas da Ordem das Filhas
de Caridade de São Vicente de Paula, chegadas em Fortaleza em 1865, o Colégio
da Imaculada Conceição funcionou a partir de 1867, num prédio construído para
abrigar um hospital. Ocupava a área equivalente a um quarteirão quadrado, na
parte setentrional da Praça Filgueiras de Melo. Ao longo do tempo, o Colégio
Imaculada Conceição conquistou posição de destaque na educação das moças
pertencentes a elite da cidade, que aprendiam as seguintes matérias: instrução religiosa, primeiras letras, gramática portuguesa, gramática francesa, aritmética, geografia, história sagrada, história do Brasil, civilidade. Além disso, aprendiam sobre costura, bordados, tecidos, flores, desenho, piano e música vocal. O colégio era dirigido por 19 irmãs de caridade, todas francesas. 

No início do século XX, nas dependências do
Colégio da imaculada Conceição foi criado o externato São Rafael para meninos,
onde estudou o futuro presidente Humberto de Alencar Castelo Branco.
Em 1876, o cônego Ananias Correia Amaral fundou o
Colégio São José. Suas irmãs Júlia e Judith Correia do Amaral, auxiliadas pela
prima Elvira Correia Pinho, dirigiram a partir de 1881, o Colégio Santa Rosa de
Lima.
Em 1870 o professor Pedro da Silva Sena fundou o
Panteon Cearense; o padre Bruno Rodrigues da Silva Figueiredo iniciou em 1879,
o Instituto Cearense de Humanidades. 

Escola+Normal+Pedro+II+-+1902 Colégios de Fortaleza no Século XIX
 Escola Normal Pedro II em 1902. O prédio situado na Praça José de Alencar, com algumas modificações, atualmente abriga  o IPHAN.


A Escola Normal Pedro II, inaugurada em 1884 na Praça
Marquês de Herval destinava-se a formação de professores para as  escolas do Estado.  O surgimento da Escola Normal provocou uma grande polêmica na sociedade, por causa da proposta de formar professoras profissionais, numa época em que as mulheres eram destinadas ao casamento e a criação de filhos. Lá os alunos (a escola aceitava alunos de ambos os sexos) cumpriam o seguinte programa escolar: um curso preparatório de 1 ano; e um curso normal de 3 anos. No prepatório, ensinava-se português, francês, aritmética,  sistema métrico, caligrafia, desenho linear, música vocal e prendas domésticas. No Curso Normal ensinava-se pedagogia, português, francês, aritmética, álgebra elementar, geometria, geografia geral e corografia do Brasil, ciências físicas e naturais, caligrafia e desenho, música vocal e prendas domésticas. Aos alunos que concluíam o curso, era expedido o diploma de habilitação para o magistério.

Durante o mandato da Irmã Clemence Therese Gagné de Dion, falecida em 1917, o Colégio da Imaculada Conceição foi equiparado à Escola Normal do Ceará, passando também a formar professoras. 

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 prédio da Escola Militar do Ceará, atual Colégio Militar, na Avenida Santos Dumont
A Escola Militar do Ceará fundada em maio de 1889,
instalou-se, no início nas dependências do Quartel da Força de Linha, junto à
Fortaleza de N. S. de Assunção. Seu ensino correspondia ao de seus congêneres
do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Posteriormente a escola Militar se
estabeleceria no atual prédio que, construído pelo Barão de Ibiapaba, sediou
por algum tempo, o Asilo de Mendicidade.
Outros colégios antigos podem ser citados como o
Colégio Parthenon Cearense, fundado em 1892 por Lino de Souza da Encarnação, na
esquina das Ruas 24 de maio e Guilherme Rocha.
A Escola Cristã do Padre Liberato criada em 1882
educou muitas personalidades do cenário social da cidade; outro colégio, o
Ginásio Cearense de Anacleto de Queiroz Lima, fundado em 1887, comumente
chamado de Colégio Anacleto, possuía alto conceito na época, firmando-se como
principal estabelecimento particular de ensino do Estado.
O Externato Santa Clotilde da professora Francisca
Clotilde Barbosa Lima, poeta e romancista, foi inaugurado em 1891. O Instituto
de Humanidades do Cônego Salazar da Cunha e Antônio Augusto de Vasconcelos,
iniciou suas atividades em 1892, na Rua Sena Madureira, em frente a antiga
Igreja Presbiteriana, local hoje ocupado pelo Edifício Clóvis Rolim. 

col+nslourdes Colégios de Fortaleza no Século XIX
 Colégio N. S. de Lourdes, de propriedade de Ana Bilhar, na Avenida Santos Dumont
Ana  Bilhar
estabeleceu em 1896 o Colégio Nossa Senhora de Lourdes. O Colégio N.S. das
Vitórias foi propriedade de Maria Mendes 
e Emma Adélia Ruedin Gonthier, a notável Madame Gonthier, que fundaria
em 1916 o afamado Colégio La Ruche.
De grande conceito também o Colégio Castelo Branco,
iniciado em 1900, por Odorico Castelo Branco. Com a primeira denominação de
Instituto Miguel Borges, instalou-se na Praça Coração de Jesus e
posteriormente, na Avenida Dom Manuel. Mais tarde passou a ser chamado Colégio
Castelo Branco a partir de 1921, com o falecimento de seu fundador.

colegio+castelo+branco Colégios de Fortaleza no Século XIX
 Colégio Castelo Branco, na Avenida Dom Manuel

Muitos desses estabelecimentos de ensino tiveram vida longa e formaram diversas gerações de profissionais que se destacaram no cenário cearense em inúmeras atividades. Outros, perduram até hoje, como o Liceu, a Escola Normal, o Imaculada Conceição, o Seminário da Prainha e a Escola Militar, hoje Colégio Militar de Fortaleza.. 

pesquisa:
Descrição da Cidade de Fortaleza, de Antônio Bezerra de Menezes, introdução e notas de Raimundo Girão
Ideal Clube, história de uma sociedade, de Vanius Meton Gadelha Vieira 
fotos do arquivo Nirez

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0 comentário

  1. Vale muito a pena dedicar um tempinho pra admirar essas histórias da nossa terra… Excelente pesquisa essa!

    Márcio Moreira

  2. Cláudia Maria, por enquanto pesquisamos os estabelecimentos de ensino do século XIX, paramos em 1900. Mas vamos continuar com os colégios surgidos a partir daí, e vocêpoderá encontrar as Doroteias e o Juvenal de Carvalho.
    abs

  3. Muito grato pela apresentação da minha cidade. Hoje posso dizer que Deus criou tudo através de nosso antepassados. Valeu gostei muito e que Deus abençoe você pela beleza da história de Fortaleza.

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mfgprodema@yahoo.com.br

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