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Final do Século XIX, cidade de Fortaleza.
Longas jornadas de trabalho, baixos salários, muitos desempregados, essa era a realidade da população assalariada de Fortaleza. Os trabalhadores que já ocupavam diversos espaços sociais como sindicatos, oficinas, fábricas, com o advento das greves buscam participação no sistema político formal nos primeiros anos da República.
Um processo que precisava romper a resistência de uma estrutura tradicionalmente excludente para a participação popular.
Em 15 de junho de 1890 é fundado o Partido Operário no Estado, vinculado ao Partido Operário já  existente na capital Federal. O manifesto de lançamento do novo partido já diz a que veio: lutará pelo estabelecimento da jornada de trabalho de oito horas, redução do horário de trabalho para mulheres e crianças, democratização do capital e habitação digna para os trabalhadores.
Para a conquista de direitos sociais, buscam participação nas eleições de 1890 para compor o Congresso Constituinte. No entanto, o processo eleitoral é bastante tumultuado, as eleições serviam apenas para legitimar o poder dos grupos dominantes.
Sob a acusação de conspirar contra o governador, o chefe do Partido Operário Aderson Ferro, é preso. Frente a repressão policial, o grupo decide abandonar as eleições. O controle das oligarquias sobre os partidos, o processo eleitoral e aparatos de repressão, além das fraudes e eleições a bico de pena* impediam o voto das oposições e dos trabalhadores
jornal+001 A Participação Política
O Partido Operário tenta novamente participar da vida política nas eleições para a Assembléia Estadual de 1891. Os resultados não são diferentes. No jornal “O Combate” de 14 de fevereiro daquele ano, os dirigentes do Partido Operário de Baturité relatam: pela chamada geral compareceram as urnas nas suas sessões 104 eleitores, sendo 86 simpatizantes do governo e 18 oposicionistas, entretanto nem um só voto nos tocou.
Ainda na República Velha (1889-1930 – período que vai da Proclamação da República até a revolução de 30 com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder – é fundado o Partido Socialista (1919) que denuncia os baixos salários dos operários cearenses, o alto preço dos gêneros alimentícios, a discriminação nos salários das mulheres, a falta de higiene nos locais de trabalho e, como conseqüência, as doenças como a tuberculose.
Não ficam imunes à repressão política: o industrial Tomaz Pompeu de Souza Brasil, proprietário da primeira indústria têxtil – a Fábrica de Tecidos Progresso, aberta em 1884 em sociedade com Antonio Pinto Nogueira Acioly – critica o partido a quem considera obra de operário mal intencionado e chega a recomendar que as fábricas evitem empregar elementos subversivos.

trem+001 A Participação Política
A História do Ferreiro
José Paulino era ferreiro da  Estrada de Ferro de Baturité**. Entendia do serviço, era assíduo no trabalho, muito responsável e cumpria com suas obrigações.
Comparecia ao trabalho mesmo quando estava doente, pois sustentava uma família numerosa, e sabia que por uma única exceção, que só incluía o operário, não era licito receber nenhum salário nos dias em que, por qualquer que fosse a circunstância, faltasse ao trabalho.
Paulino adoeceu. Pobre, sem recursos, sem direitos, continuou o serviço na ferrovia, até ser constatado que estava com tuberculose, e ser internado na Santa Casa de Misericórdia.
Dias depois voltou para casa, onde a penúria era extrema. O ferreiro procurou o engenheiro da estrada para pedir um adiantamento. Como resposta ouviu que o operário só tinha direito ao dinheiro do governo quando lhe prestava o serviço, e dessa forma, nada podia fazer.
Nestas condições José Paulino, um homem honesto, e trabalhador, acostumado a ganhar o sustento seu e de sua família, com o suor de seu trabalho, viu-se coagido a viver da caridade alheia, até o dia em que entregou a alma ao Criador, e desobrigou-se da injustiça dos homens.
A história de Paulino é registrada nas páginas de O Combate, publicação do Partido Operário do Ceará. No lançamento do primeiro número, em 05 de abril de 1891, foi lida por Aderson Ferro, presidente-chefe do partido. O jornal era projeto de uma imprensa socialista e moralizadora e circula durante um ano. Mas tarde, outro jornal surgiria, com o mesmo nome.
* Eleições a Bico de Pena
Dizia-se das eleições da velha República, a de antes de 1930. Naquela época, o voto não era secreto, mas aberto. O sistema de poder vigente tomava três tipos de precaução para evitar surpresas nos resultados das eleições.
1 – os chefes e caciques políticos, principalmente do interior, orientavam os eleitores a votar em determinados candidatos, e só neles; para isso entregavam ao votante uma pilha de cédulas de votação com os candidatos em quem deveriam votar;
2 – as atas das juntas apuradoras – frequentemente as próprias mesas receptoras – eram feitas para mostrar determinados resultados, nem sempre correspondentes aos resultados apurados nas urnas;
3 – onde isso não era possível – nas capitais e nas grandes cidades de então, em que eram eleitos candidatos “indesejáveis”, de oposição, a Câmara e o Senado faziam a “verificação dos poderes” dos que se apresentavam para tomar posse. Aí muitos dos indesejáveis eram barrados, e seus mandatos eram invalidados pela Casa.   
**A Companhia de Via Férrea de Baturité Sociedade Anônima, surgiu de um acordo assinado no dia 5 de março de 1870, entre o Senador Tomaz Pompeu de Souza Brasil (Senador Pompeu), o bacharel Gonçalo Batista Vieira (Barão de Aquiraz), o coronel Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), o negociante inglês Henrique Brocklehurst e o engenheiro civil José Pompeu de Albuquerque Cavalcante.
 O objetivo era construir uma ferrovia ligando a Capital do Estado até a Vila de Pacatuba, tendo um ramal até Maranguape.
O empreendimento visava o escoamento da produção serrana para o porto de Fortaleza.
pesquisa:
Revista Fortaleza fascículos 3, 4, 11

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mfgprodema@yahoo.com.br

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