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A estação do Quilômetro 3 foi inaugurada em 1922
pela Rede de Viação Cearense. Logo depois teve o nome alterado para Matadouro
por estar junto na época a um abatedouro de gado. O local escolhido para a
instalação da estação,  o bairro Farias Brito, surgiu de uma povoação que margeava a antiga Estrada
para o Soure (atual Caucaia). 

esta%25C3%25A7%25C3%25A3o Estação de Otávio Bonfim

Até 1917, a linha instalada pela antiga Estrada de Ferro Baturité passava por
outro trajeto, que corresponde hoje a Avenida Tristão Gonçalves, até a Estação Central. A partir daí, os trilhos foram arrancados e um novo trajeto
foi estabelecido mais a oeste do centro, cortando os bairros do Jacarecanga,
Otávio Bonfim e Porangabuçu, chegando até Couto Fernandes.   
Nesse ponto se juntava com a linha antiga,
pouco antes da futura estação de Couto Fernandes, e daí seguindo rumo sul do Estado, fazendo nesse trajeto
uma grande tomada à esquerda da linha original. Anos mais tarde o nome da estação do Matadouro foi
alterado para Otavio Bonfim, em homenagem a um engenheiro da RVC.
 

No
mesmo atordoamento chegaram à Estação do Matadouro.
E,
sem saber como, acharam-se empolgados pela onda que descia, e se
viram
levados através da praça de areia, e andaram por um calçamento pedregoso, e foram jogados a um curral de arame
onde
uma infinidade de gente se mexia, falando, gritando, acendendo
fogo.
Só aos poucos se repuseram e se foram orientando.
(Rachel de Queiroz – O
Quinze, pág. 39)

esta%25C3%25A7%25C3%25A3o1 Estação de Otávio Bonfim

A estação do Matadouro, mais tarde Otávio Bonfim, é citada no livro “O Quinze” de Rachel de Queiroz, como porta de entrada para as pessoas que
sofriam com a seca, procedentes de todo o interior do Ceará. Mas a estação só foi inaugurada em 1922, não poderia, portanto, ter sido utilizada pelos retirantes da seca de 1915. Como o romance foi publicado em 1930, pode se concluir que a escritora ilustrou a história utilizando o local que só existia de fato, na época em que a obra foi escrita. 

Nas proximidades da estação, no bairro do Alagadiço, foi
formado um dos famosos campos de concentração,
 local onde os retirantes ficavam
confinados, vigiados por soldados. Ali os retirantes podiam fazer tudo, contanto
que não saíssem de lá. O governo fornecia alguma alimentação, água, e prometia
soluções que nunca chegaram.  O objetivo
era evitar que os miseráveis, vítimas da seca, entrassem em Fortaleza. Foram os
flagelados que ajudaram a formar os bairros Alagadiço, Moura Brasil, e Pirambu.
 

Conceição
atravessava muito depressa o Campo de Concentração.

Às
vezes uma voz atalhava:


Dona, uma esmolinha…

Ela
tirava um níquel da bolsa e passava adiante, em passo ligeiro,

fugindo
da promiscuidade e do mau cheiro do acampamento.

Que
custo, atravessar aquele atravancamento de gente imunda, de latas

velhas,
e trapos sujos!

Mas
uma voz a fez parar.  me conhece?

(
Rachel de Queiroz – O Quinze, pág. 24)
esta%25C3%25A7%25C3%25A3o3 Estação de Otávio Bonfim
Em 1979, o prédio original da estação foi demolido para acolher uma nova. Em maio de 2009, parte da linha, o trecho entre
Parangaba e Otavio Bonfim foi desativado. Com isso, o trem da Metrofor passou a
rodar apenas da estação de Parangaba para a estação terminal de
Vila das Flores, em Maracanaú. O trecho Estação
João Felipe/Otavio Bonfim foi mantido
com um trem cobrindo ida e volta entre os dias 11 e 17 de maio, e sustado nesse dia
pois o número de passageiros em sete dias não havia passado de quatro por
viagem.

esta%25C3%25A7%25C3%25A3o1 Estação de Otávio Bonfim

esta%25C3%25A7%25C3%25A3o2 Estação de Otávio Bonfim

esta%25C3%25A7%25C3%25A3o3 Estação de Otávio Bonfim

Com a implantação do Metrofor, gradativamente, as antigas
estações ferroviárias foram sendo demolidas, e a de Otávio Bonfim não escapou da
sina: foi demolida parcialmente,  restando as colunas de sustentação e as
fundações. Agora, um grupo de ativistas luta pela restauração
e preservação da Estação do Otávio Bonfim, e pelo reconhecimento de sua importância
histórica e cultural. Uma vez recuperado, o prédio deveria abrigar um memorial para
lembrar vítimas das secas.

Lembrando que Fortaleza já contou com um Museu da Seca, que estava
localizado no Palacete Carvalho Mota, no Centro,
na esquina das
ruas General Sampaio e Pedro Pereira. O prédio abrigou o Museu da Seca no
período de 1985 até 2003, ano em que fechou as portas para uma restauração que
não se concretizou. O imóvel ainda passa por reformas, mas com previsão de
reabrir em breve, não mais como museu. 

fotos do site Estações Ferroviárias
fotos atuais Fortaleza em fotos

     

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0 comentário

  1. Nossa, como é bom saber um pouco mais sobre o passado de Fortaleza.. Quando vejo essas fotos em preto e branco, me transporto em pensamentos para tentar vivenciar como seria as coisas nessa época. Obrigada por dividir isso com a gente!

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mfgprodema@yahoo.com.br

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