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mapadoceara2+001 Uma Vila Sobre a Areia
Forte de São Sebastião (1612)

Era preciso fechar os olhos. Não só porque ao sol do meio dia a luz fosse incandescente, mas também as rajadas de areia, fina e branca ameaçavam a vista. 
Na Vila da Fortaleza de Nossa senhora da Assunção, acanhada capital da província do Siará Grande, a paisagem encontrada pelo visitante, na primeira metade do século XIX,  era bastante inóspita. 

A primeira coisa que se pode dizer do Ceará é que a cidade é inteiramente construída sobre a areia. Desde a praia até o bairro mais distante só se vê areia, escreveu Daniel Kidder, viajante norte-americano que desembarcou no porto da Prainha na década de 1830. 

Duas décadas antes o inglês Henry Koster teve impressão semelhante ao relatar que a Vila de Fortaleza era edificada sobre a areia. Vindo de Recife em 1810, o inglês ficou surpreso com a simplicidade da capital. A Vila tinha formato quadrangular, com quatro ruas partindo da praça, e mais outra, ao lado norte deste quadrado correndo paralelamente, mas sem conexão. 
As casas tinham apenas o pavimento térreo, as ruas não tinham calçamento. Havia três igrejas, o palácio do Governador, a Casa da Câmara e a prisão. Notou ainda que apenas o Palácio do Governador era assoalhado.  

vila Uma Vila Sobre a Areia
Gravura de Joaquim José dos Reis Carvalho quando de sua vinda como componente da Comissão Científica de Exploração (Comissão das Borboletas) em 1859. 
Mostra Fortaleza vista do mar com o Forte em primeiro plano, as torres da Sé, coqueiros e um casario escasso. É a iconografia mais antiga da capital. A obra original encontra-se no Museu Histórico do Crato. 

Alçada à condição de capital da Capitania do Ceará em 1799, a Vila de Fortaleza não fazia jus ao título. Ficava a dever, em porte, a outros núcleos urbanos dentro da própria Capitania, como o Aracati. E muitas décadas ainda se passariam antes que os ares de cidade grande viessem remexer nesse areal. Fortaleza só veio adquirir alguma importância, poder político e econômico, como capital do estado, a partir da afirmação do porto da cidade como local de escoamento das exportações no porto da Prainha (hoje Praia de Iracema).
O algodão cearense ganhou o mercado internacional devido a Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, que restringiu a produção do algodão americano. O boom nas exportações deu a Fortaleza um crescimento econômico rápido. O mesmo porto que levava o algodão, via chegar as novidades da Europa. A cidade foi se embelezando a medida que os outros núcleos do Estado foram minguando.
vila_002 Uma Vila Sobre a Areia

Cartão postal da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, inicio do Século XX

É desse período – final do Século XIX, início do Século XX – que vem as principais edificações consideradas hoje como patrimônio histórico da cidade. Até os primeiros anos de 1900, o perímetro urbano de Fortaleza era pouco mais do que o que é hoje conhecido como Centro Histórico, cujo limite era o Riacho Pajeú. Para além dali, a leste, apenas a trilha que levava ao Mucuripe e algumas poucas casas. 

vila+001 Uma Vila Sobre a Areia
Vila da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção ou Porto do Siará, atribuído a Francisco Antonio Marques Giraldes – 1811

No mapa riscado pelo capitão Francisco Antonio Marques Giraldes – que tinha o intuito de registrar a geografia da enseada da vila – aparecem algumas edificações que podem ser localizadas: além do Forte e da Matriz, que tiveram novas edificações posteriores, a Igreja do Rosário, a mais antiga edificação da capital que permanece em pé até os dias atuais.
Fonte:

Revista Fortaleza – fascículo 10, de 11 de junho de 2006
Fotos:  Ah! Fortaleza

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0 comentário

  1. Prezada Fátima, O Forte do Siara já era de pedra em 1612? Isso é algo muito estranho no seu texto. Quando lemos os originais vemos que em 1621 o tal forte era só de madeira. Já em 1638 lemos que o forte era de pedras soltas sem argamassa.

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