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A
maioria foi demolido, virou estacionamento. Casarões em perfeito estado,
carentes de manutenção, é fato, mas perfeitamente recuperáveis. Uma mão de
tinta, um remendo no piso, uma correção na fiação elétrica, uma atualizada nas
instalações sanitárias, a conservação correta do teto, e pronto. A maioria dos
poucos sobreviventes foram construídos em fins do século XIX/primeira metade do
século XX. Os materiais empregados, eram importados (louças, pisos, telhas,
madeiras, sacadas de ferro, azulejos etc.), e já não são mais empregados nas
construções modernas. Tampouco existem peças de reposição disponíveis no
mercado. As tintas também eram escassas pelo menos nas cores. Usava-se o cinza
nas residências e amarelo nos prédios públicos.  


gondimcasa Os Casarões do Centro
casarão da Família Gondim: demolido

Fenix-Caixeiral2 Os Casarões do Centro
segunda sede da Fênix Caixeiral: demolida 

casarao%20dos%20fabricantes%20rua%20rufino%20de%20alencar%202012A Os Casarões do Centro
Casarão da família de Joaquim Miranda, ultimamente Casarão dos Fabricantes: destruído num incêndio

Esses
materiais de acabamento não eram produzidos no Ceará, daí a necessidade de
importação deles. Aqui se fabricavam tijolos em quase todo o Estado, enormes, bem-feitos,
ligados com massa de areia, cal de ostras e óleo de baleia quando em zonas de
praia. Nessa arquitetura do tijolo, entretanto, verificou-se insistência do
emprego da argamassa de barro e areia, cujos resultados tantas vezes negativos,
punham em risco boa parte das obras, que se rachavam, ora sob o peso dos
telhados, ora por acomodação do solo, ocado por formigueiros. Essa
particularidade construtiva, comum em outras regiões do País, era notada pelos
visitantes, que denunciavam as condições aparentemente pouco estáveis de
igrejas, edifícios públicos e moradas de gente importante. Essa técnica de
fabricação pode ter sido responsável pela perda de muitos imóveis antigos.  

A
arquitetura também é típica daquele período, fachadas rebuscadas, com entalhes,
relevos, pórticos, soleiras, lajes com pedra de lioz, importada de Lisboa. Os
construtores eram verdadeiros artesãos, com figuras e acabamentos feitos à mão,
caprichosamente desenhados, reproduzidas de plantas adquiridas no Velho Mundo.
Os ornamentos internos falavam de seus moradores: políticos (sim, sempre foram
ricos) ou homens em sua maioria enriquecidos com os lucros do algodão, das
fazendas de café, e do comércio, portadores de títulos de nobreza, com título e
brasão assinalados nas portas das residências.

Os
belos casarões estão sumindo do centro de Fortaleza. O esvaziamento e a falta
de novos empreendimentos ou propostas para requalificação da área, contribuem
fortemente para essa cultura de apagar o passado. Para incentivar a recuperação
e a ocupação, o governo municipal poderia conceder algum incentivo fiscal como
a isenção de IPTU ou oferecer parceria na recuperação por um determinado período. Mas sem incentivo, sem interesse,
sem valor comercial, muitas vezes produtos de heranças, com vários herdeiros, os
imóveis acabam sendo demolidos. Mais fácil, mais barato, menos complicado.

Dos
que ainda sobrevivem, ainda que só restem os traços da fachada está a antiga
mansão da família Távora, em pleno centro da cidade na esquina das ruas Sena
Madureira e Visconde de Saboia. Construído pelo coronel José Pacífico, rico
cafeicultor da Serra de Baturité para sua filha Cândida. No velho casarão
cinzento da Praça dos Leões nasceu o ex-governador Virgílio Távora, no dia 29
de setembro de 1929, filho de Carlota Augusta de Moraes (filha de Cândida) e do
Dr. Manuel do Nascimento Fernandes Távora, militante do movimento tenentista do
final da República Velha e plantador de café do Maciço de Baturité.


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imagem Marciano Lopes

casa%20de%20virgilio%20tavora Os Casarões do Centro
virgilio Os Casarões do Centro
fachada do Solar dos Távora

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a frente do imóvel é parcialmente encoberta por essa estrutura preta que piora a aparência e enfatiza o ar de decadência. 

A
fachada como era comum às construções de fins do século XIX/início dos XX
exibia inúmeras janelas guarnecidas de sacadas e portas de ferro. As linhas
arquitetônicas eram exuberantes com figuras em relevo e arcos de meia volta.  A decoração interior do solar era das mais
requintadas, com a utilização de objetos importados da Europa e do Oriente.
Hoje, totalmente descaracterizado é utilizado em parte por uma loja de
materiais de construção. A outra parte, inclusive a parte que contém um
primeiro andar, está desativada e com a fachada preservada. As portas do andar
inferior foram fechadas, talvez para evitar ocupações ilegais do imóvel.    

Outro
imóvel de grande relevância histórica é o Palacete Carvalho Mota, na esquina
das ruas Pedro Pereira com General Sampaio. O casarão foi construído em 1907
para residência da família do coronel Antônio Frederico de Carvalho Motta, comerciante
ligado ao comércio de exportação presidente do Banco do Ceará, mais tarde Deputado
Estadual; ocupou o cargo de 3° vice-presidente do Estado e chegou o ocupar o
cargo de governador de 24 de janeiro a 12 de julho de 1912.

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Palacete Carvalho Mota – imagem IPHAN
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O palacete está situado na antiga Rua da Cadeia, atual General Sampaio esquina com a Pedro Pereira, em terreno medindo cerca de 700 m². Possui estilo eclético, numa mistura de elementos neoclássicos e art nouveau. Tem dois andares com janelas e portas em arco batido. A família ficou pouco tempo no local em razão de uma tragédia familiar.

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Ao longo dos anos o palacete abrigou as instalações da IFOCS, posteriormente DNOCS, vindo a ser desocupado, apenas, ao final da década de 70 com a construção da nova sede da Diretoria Regional no Ceará. Em 1983, o imóvel foi restaurado com base em projeto elaborado pelo IPHAN, para a instalação do Museu das Secas, o qual abrigaria o acervo da instituição. Sem a devida manutenção o Museu das Secas que viria a ocupar uma área relativamente pequena do prédio, terminou por não ter condições de atender ao público que buscava visitá-lo. Ainda sobreviveu entre 1985 e 2004. Depois disso o prédio ficou desocupado, e desde então, está fechado. Hoje é um casarão triste e degradado.  

 

Fontes:

Mansões, Palacetes, Solares e Bangalôs de Fortaleza, de Marciano Lopes. ABC. Fortaleza.2000.

História Abreviada de Fortaleza e Crônicas sobre a Cidade Amada. Mozart Soriano Aderaldo. Fortaleza;/ UFC/Casa de José de Alencar, 1998.  

Virgílio Távora e a transição para o desenvolvimento do Ceará, de Juarez Leitão. Revista do Instituto do Ceará – 2013

Arquitetura no Ceará. O século XIX e algumas antecedências. José Liberal de Castro. Revista do Instituto do Ceará – 2014

http://www.fortalezaemfotos.com.br/2020/01/carvalho-mota-o-homem-por-tras-do.html

fotos acervo Fortaleza em Fotos



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mfgprodema@yahoo.com.br

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