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cine+majestic O Apartheid nos Antigos Cinemas
Cine-teatro Majestic-Palace, na Rua Major Facundo (foto Nirez)

Vem dos primeiros cinemas fixos de Fortaleza, na década
inicial do século XX, a preocupação em criar uma área isolada para a camada
social de mais baixo poder aquisitivo. A esse segmento de público, foi
reservado espaço restrito da 2ª. classe, popularmente chamada de geral. Esse
setor da plateia trazia o inconveniente de ser localizada quase sempre, próxima
a tela e, em pelo menos dois de nossos antigos cinemas, por trás da tela. 

cine+rio+branco O Apartheid nos Antigos Cinemas
 Cine Rio Branco, o segundo cinema fixo de Fortaleza foi inaugurado em 04 de setembro de 1909, na Rua Barão do Rio Branco, 71/73

A
geral
era extremamente desconfortável, sendo comum o uso de bancos corridos, duros e
sem encosto, a que se tinha acesso por entradas separadas, para evitar o
constrangimento ao público seleto dos cinemas da simples aproximação dos
telespectadores humildes.

O cinema Rio Branco, localizado na Rua Barão do Rio Branco,
adotou uma entrada para a Geral pela rua da Assembleia (atual Rua São Paulo),
iniciando esse processo seletivo.

Cinema Rio Branco – A Empreza Muratori e Cia para maior
comodidade do público e exmªs famílias, abriu uma porta à Rua da Assembleia para
 a entrada e  saída da 2ª. classe. (A República, 16 outubro
de 1909).

Essa era uma forma de apartheid que se estabelece nos
cinemas sob critérios de condição socioeconômica e prevalece em todos os
cinemas que aceitam pessoas de baixa renda em suas salas de projeção.

majestic O Apartheid nos Antigos Cinemas

 Sala de projeção do Cine-teatro Majestic-Palace, a geral ficava num lugar mais afastado da tela e tinha entrada separada para o chamado “poleiro”

No imponente Cine Majestic, que durante 38 anos teve a sua
entrada social pela Praça do Ferreira, distanciado da geral pelo menos até o
incêndio que lhe devorou o prédio de cinco andares  em abril de 1955, e obrigou a criação de novo
acesso  pela Rua Barão do Rio Branco. O público
que se destinava a geral sempre fez uso de uma porta estreita, nos fundos do
prédio, que levava à escada para o terceiro balcão ou torrinha. 

Como era comum
o uso de tamancos de madeira pela população pobre,  os espectadores da geral se viam obrigados a
deixar seus calçados ao pé da escada, subindo para o chamado poleiro sem fazer
barulho. Na saída, cada qual se apossava de qualquer um que lhe coubesse no pé. 

cine+moderno O Apartheid nos Antigos Cinemas

Cine Moderno – vista interna

A seleção dava-se naturalmente pelo preço dos ingressos e
também pela auto exclusão de pessoas mal vestidas das animadas salas de espera,
onde desfilavam roupas de classe e, em determinadas sessões, em que se
ostentavam luxo. As empresas impediam discretamente o acesso de pessoas que não
atendessem ao padrão convencionado, e em alguns casos, fixavam claramente a
proibição de trajes populares. 

cines1 O Apartheid nos Antigos Cinemas
traje das frequentadores dos cinemas de Fortaleza. Para os homens era obrigatório o uso de paletó e gravata
 
Esse critério elitista era absoluto em relação ao cinema que
detinha o primeiro nível do setor exibidor, até que, cedendo esse lugar a outro
melhor, iniciava o seu processo de decadência, abandono e degradação. Assim foi
quando o Majestic cedeu sua posição para o Moderno, em 1921; o Moderno perdeu
essa primazia para o Diogo, em 1940; e este para o luxuoso Cine São Luiz, em
1958. 

cine+diogo+salao O Apartheid nos Antigos Cinemas

 Cine Diogo, inaugurado em 7 de setembro de 1940, só perdeu a posição de mais importante, moderno e confortável salão do grupo Severiano Ribeiro, em 1958, com a inauguração do Cine São Luiz. 



Em 1940, o Cine Diogo, por ser luxuoso e confortável, impôs
o paletó e as senhoras e senhoritas, vestidos requintados. Ingressar no Diogo
era status, pois a rígida fiscalização e o eficiente gerenciamento exigiam do
público masculino paletó e gravata, enquanto que as senhoritas faziam
verdadeiros desfiles de moda com seus belos vestidos mais para o traje a rigor
do que para o esportivo. Essa tendência seletiva desde a sua inauguração,
despertou o movimento no comércio de moda principalmente para atender senhoras
e senhoritas que se preocupavam em desfilar seus vestidos elegantes. Há publicidade
na imprensa, mesmo antes da inauguração, tendo como alvo o público do cinema de
elite, a exemplo do anúncio do Correio do Ceará, de 6 de setembro de 1940.

Inauguração do Cine Diogo 
para inauguração do cine chic da
cidade, compre o seu chapéu no Atelier da madame Mendonça. Rua Floriano
Peixoto, 884.

cines O Apartheid nos Antigos Cinemas

Os costumes mudaram e, nos anos 50, os homens costumavam
usar as camisas largas, de brim ou linho, próprias para o clima quente de
Fortaleza e que eram chamadas de slacks. Quando da inauguração do Cinema
Jangada, primeira das salas do grupo Cinemar, o empresário Barros Leal,
preocupado em fixar o nível social, estabeleceu restrições:

A fim de evitarem-se constrangimentos, a Direção do Cinemar
avisa não ser permitida a entrada no Jangada de cavalheiros trajados de slacks.
Somente nos anos 60 começa a atenuar-se o controle e há menores exigências
quanto o padrão e qualidade de roupa.

Extraído do livro de Ary Bezerra Leite

A Tela Prateada

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