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Fortaleza vista do alto em 1935. Ao fundo a Igreja do Carmo e o Excelsior Hotel (foto: Museu da Imagem do Som)

Fortaleza, de suas origens sociais até os idos dos anos 1930/40, ainda guardava o hábito das cadeiras na calçada. O Costume predominava mais entre as famílias que residiam para além da Rua General Sampaio, rumo do Oeste e para os lados norte e leste além da Senador Alencar e da Governador Sampaio. 

Nas ruas mais centrais, onde residiam os mais endinheirados ou projetados socialmente, as casas eram de porões e sacadas avarandadas, o que não significa que naquelas ruas não houvesse os adeptos da velha prática. Mas, via de regra, na hora de pegar o frescor vespertino, damas e cavalheiros não precisavam ir para as calçadas, bastava abrir as portas por trás das varandas, de balaustrada de ferro ou alvenaria trabalhada.

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Em toda extensão da antiga Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco), um grande número de sobrados, palacetes e solares nos mais variados estilos, dotados de sacadas, com balaustradas de ferro, predominando o estilo neoclássico, então em voga na cidade (Arquivo Marciano Lopes)

Havia duas razões entre as classes mais modestas para o hábito das cadeiras na calçada: a primeira era as casas pegadas umas às outras, as chamadas paredes-meias, sem áreas de circulação interna, abafadas como clausuras. 

A segunda razão devia-se a necessidade do trato social, já que os clubes eram exclusivos, poucos possuíam rádio, televisão nem pensar. Tudo isso motivava as reuniões nas calçadas em frente as casas, com as cadeiras arrumadas de modo a estabelecer a conversa fácil entre  vizinhos, tudo amenizado pela brisa, sempre corrente, após o rigor do sol. 

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alguns velhos sobrados do centro ainda resistem

Os homens discutindo o último golpe do Accioly, ou a mais recente virada do Agapito dos Santos, ou o artigo mais virulento do João Brígido; as mulheres, a vida de cada um,  a moda exposta nas vitrines, o custo de vida. 

E mais além, em pleno leito da rua, onde não passavam carros, os meninos, em correrias nas brincadeiras do cipó-de-fogo, da manja, do boca de forno. Às nove da noite, ordem geral de recolher para dormir, depois de desfrutar a suave brisa da noite, porque a cidade às seis horas já estava de pé, de café tomado, num hábito restante da pobreza inicial, transformada em tradição para pobres e ricos, inclusive para os coronéis Antônio Diogo, José Gentil Filomeno Gomes e Alfredo Salgado, que em princípios do século XX simbolizavam o progresso.

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Mercearia A Brasileira, na Rua Floriano Peixoto próxima à Praça do Ferreira,1936 (Ah, Fortaleza!) 
Quanto às bodegas, era até bem pouco tempo era a designação mais comum em Fortaleza, para as casas de comércio dito familiar, sobretudo as situadas nas esquinas das ruas centrais.  À exceção de algumas poucas lojas de secos & molhados, na orla imediata da Praça do Ferreira, dos famosos quartinhos do mercado, situados nos imensos galpões de ferro e zinco que existiam  onde hoje estão o prédio dos Correios e do Banco do Brasil; numa cidade que até então, quase só crescera para as bandas da Jacarecanga, era grande o número de bodegas. 

Dentre outras havia Bodega do Lupicínio, em prédio de esquina, com quatro portas de frente para a Praça José de Alencar, esquina da Rua Guilherme Rocha com a 24 de Maio e outras tantas portas para o lado da Fênix Caixeiral, de fachada decorada com uma águia prateada no alto. No interior do estabelecimento, imensos balcões, muitas prateleiras com poucas bebidas ordinárias.

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Salão do bar Americano, mercearia de propriedade de Salomão Benicio Sampaio, na esquina das ruas Guilherme Rocha com General Sampaio (Ah, Fortaleza!).
  
Na esquina da Rua 24 de Maio esquina com a Pedro Pereira, antiga São Bernardo por causa da pequena igreja que até hoje resiste, estava a Bodega do seu Chico da Mãe Isa. Essa sempre foi das mais sortidas e movimentadas, nela trabalhando dia e noite, Seu Chico, o proprietário, auxiliado pelos filhos mais velhos. Não comercializava apenas gêneros alimentícios; tinha setor ligado a ferragens, vendia munição de caça e pesca, material para pintura e carpintaria, do prego ao óleo de linhaça e verniz.
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Para os lados sul da cidade, naquela zona em que a pavimentação ainda era inexistente, dominava absoluto, o Gambetá, na esquina da Rua Clarindo de Queiroz com Tristão Gonçalves.  Situada em zona de concentração fabril de tecelagem, nos domínios industriais do coronel Antônio Diogo de Siqueira, sua clientela era constituída de algumas centenas de operários de ambos os sexos, que aos sábados recebida a féria, formigavam à frente do imenso balcão, olhos nas altas e sortidas prateleiras. O Gambetá vendia secos e molhados e mais uma infinidade de artigos.    
As bodegas eram o paraíso das donas de casa que não precisavam se abalar para o centro da cidade.

fonte: Otacílio Colares     

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