
O Coqueiral da Maria Júlia
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imagem Diário do Nordeste |
O proprietário do sítio era
Tancredo de Castro Bezerra, mas era conhecido como “coqueiral da Maria Júlia”
porque era ela quem administrava o lugar. Casados, Tancredo e Maria Júlia
moraram no sítio com cinco filhos até o final da década de 50; estava localizado
entre a atual avenida Historiador Raimundo Girão e as ruas, ainda sem
pavimentação, Dragão do Mar, Joaquim Alves e Gonçalves Ledo.
Com uma área de
aproximadamente dois hectares, o sítio tinha um casarão e uma grande plantação
do coqueiro gigante, tipo cocos nucifera linnaeus, uma espécie de coqueiro que
atinge até 30 metros de altura, e podia ser visto de longe. A produção
artesanal de coco seco, sem os tratos culturais necessários e dependente das
águas de chuva, era destinada a comercialização, e tinha grande aceitação.
A área não possuía muros
nem cercas, como também as demais propriedades locais. Como não realizavam
capinas, os coqueiros eram intercalados por grande variedade de plantas que favorecia a existência de várias espécies de animais, possibilitando uma fauna
diferenciada.
No inverno, parte do
coqueiral ficava alagada, em virtude da superficialidade do lençol freático. No
verão, quando o terreno estava seco, a meninada capinava o mato para fazer um
campo de futebol improvisado, embora intercalado de coqueiros. No segundo semestre
do ano, as alunas do Colégio das Doroteias ministravam aulas de catecismo às
crianças, todas as quintas-feiras. Depois as professoras emprestavam bolas de
futebol para recreação. No sítio também aconteciam quermesses.
Além da atividade
econômica, o sítio da Maria Júlia, cumpriu uma importante função social para a
Praia de Iracema dos anos 50.
O Poço da Maria Félix
O poço da Maria Félix era
uma escavação no sítio de Almir Freitas, localizado na avenida Historiador
Raimundo Girão, e as ruas Dragão do Mar, Gonçalves Ledo e dos Ararius. A parte
baixa do sítio tinha o lençol freático muito superficial, que favorecia a
exploração de poços e cacimbas.
Maria Félix era moradora do
sítio do Almir. Ela escavou um poço próximo de sua casa, na confluência das
ruas Dragão do Mar e Gonçalves Ledo. O poço era de forma circular, seis metros
de diâmetro e metro e meio de profundidade. A finalidade era obtenção de água
para consumo, regar suas plantas frutíferas e auferir renda lavando roupas das
famílias da vizinhança. Maria dedicava boa parte do seu tempo a cuidar da casa, das plantas, da água do poço e não gostava de invasores em seus domínios.
Sabendo disso, muitos jovens ao retornarem
do banho de mar, aproveitavam para mergulhar na fonte da Maria Félix, às
escondidas, enquanto ela estava dento de casa. Mas o barulho produzido contra
superfície da água, alertava a lavadeira para o fato de haver intrusos poluindo
a água, turvando sua transparência, já que a lama do fundo subia após o contato
com os pés dos nadadores.
Imediatamente Maria pegava
um porrete e corria para pegar os meninos que sempre eram mais rápidos do que
ela. Outra forma de importunar a lavadeira era através da captura de jia no seu
poço, com utilização de linha de pesca, anzol e iscas. Além disso a moradora
vivia preocupada com os constantes furtos de frutas que ocorriam no seu
terreno.
O sítio, o poço da Maria
Félix, e as árres frutíferas, sumiram no tempo, junto com as reformas e a
modernidade da Praia de Iracema.
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imagem do livro Fortaleza 27 graus |
Até os anos 90 existia na
Praia de Iracema, uma piscininha que se formava duas vezes por dia, sempre na
maré alta. Tinha o formato de uma pequena lagoa e surgiu quando construíram o
quebra-mar de pedra, para conter o avanço do mar sobre a zona residencial da
faixa litorânea.
Praticamente todos os anos,
nos primeiros meses, a maré alta invadia a faixa de areia cada vez com mais
intensidade, e chegava até a rua dos Tabajaras, destruindo as edificações que
estavam pelo caminho.
A partir da construção do
quebra-mar, a onda perdeu a força destruidora de antigamente. A localização da
piscininha correspondia às imediações do início da rua dos Tremembés, próximo
ao Estoril. Era o local ideal para quem desejava aprender a nadar, em razão de
suas ondas de pequena intensidade, oriundas da maré alta, mas que ficavam
amortecidas ao passarem no quebra-mar. Na maré baixa o reservatório perdia a
totalidade de suas águas. A profundidade era variável, sendo mais fundo próximo
às pedras.
Em 2009 a Prefeitura de
Fortaleza promoveu mais uma obra de engorda que aumentou a faixa de praia em 80
metros. O processo de requalificação da área para ampliação do calçadão, riscou
a piscininha do cenário, que acabou sendo aterrada. Com isso, as boas memórias
de muita gente foram aterradas junto com a piscininha.
Extraído do livro A Praia
de Iracema dos anos 50/Jaildon Correia Barbosa/Fortaleza: Premius, 2010/informações
adicionais do G1.
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excelente como em toda publicaçao