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Na década de 30 o banho de mar ainda não fazia parte do
programa dos finais de semana. A Praia de Iracema, que era o cartão postal da
cidade, onde a beleza natural atraía os curiosos, foi destruída com o avanço do
mar, devido às obras da construção do Porto do Mucuripe. No entanto, outros
pontos da zona litorânea começavam a despontar na lista dos admiradores das
belezas naturais.

praia+de+iracema-1938 Fortaleza e a descoberta do banho de mar
Praia de Iracema década de 30. A elite não valorizava a praia nessa época, que era frequentada apenas pelos moradores da área, pescadores, estivadores etc . 

Na Barra do Ceará, a oeste de Fortaleza, o Rio Ceará, que
ali desemboca, fora escolhido como local de pouso dos hidraviões que atendiam
os viajantes privilegiados, capazes de assumir gastos com uma passagem
aérea.  Embora se mantivesse uma
expectativa de que a Barra do Ceará fosse se tornar um local que viria a
oferecer opção de lazer para a população,  a frequência ao local se restringia aos que
acompanhavam ou desejavam observar os pousos e decolagens dos hidroaviões.

hidro+aviao+na+barra+do+ceara+1930 Fortaleza e a descoberta do banho de mar
hidroavião na Barra do Ceará em 1930

Depois da 2ª. Guerra, a Barra do Ceará voltou a ser área
excluída do roteiro de lazer da elite fortalezense. A pobreza foi ocupando os
terrenos à beira mar, estendendo-se até a miserabilidade extrema que se
concentrava no Pirambu.
O interesse dos moradores pela zona costeira se limitava às Praias
Formosa, de Iracema e do Meireles que ficavam mais próximas do centro. A Praia
de Iracema passou a ser valorizada com a construção de residências, sendo
algumas de veraneio. Mas as obras do porto e o consequente avanço do mar
diminuiu a extensão da praia, prejudicando os adeptos dos banhos de mar. 

casa+de+jangadeiro+no+meireles Fortaleza e a descoberta do banho de mar
A praia do Meireles, o metro quadrado mais caro da cidade atualmente, tinha esse aspecto até a década de 50. Casas de pescadores e muitos coqueiros. 

A esperada modernização do porto abalara fortemente a opção
de lazer que fora iniciada no pós-guerra, deixando aos saudosistas os lamentos
poéticos sobre o que perderam da antiga Praia de Iracema.  Entretanto, foi através do porto, que na
década de 1940, começaram a chegar os automóveis: o Lincoln, o Packard,
considerados mais luxuosos e os carros menores como o Renault, além de outros
modelos, franceses e ingleses. Só em uma remessa foram desembarcados 60
automóveis além de alguns caminhões. A maioria destinava-se a uso particular e
foram substituindo os deselegantes jeeps.

Fort+068a Fortaleza e a descoberta do banho de mar
a abertura do Porto do Mucuripe possibilitou a importação de automóveis em maior escala e o surgimento de veículos de aluguel. Na foto, o Posto Mazine, localizado na Praça do Ferreira. 

Como medida de prevenção ao contínuo avanço do mar na Praia
de Iracema, foram colocados diques de
pedras, restando apenas uma exígua área para os banhistas. O espaço praiano
aberto só começava após aquela praia, a partir da Praia do Meireles nas
proximidades do antigo Clube dos Diários, prolongando-se até a Volta da jurema. 

porto+do+mucuripe+anos+60 Fortaleza e a descoberta do banho de mar
Porto do Mucuripe, anos 60. A construção do porto  tornou-se um obstáculo para o fluxo de areias do litoral leste para o
oeste, causando a drástica diminuição da faixa de praia na região da
Praia de Iracema e o progressivo abandono das atividades portuárias e
comerciais na área.
 
Um leitor do jornal O Povo lembrando a existência do jornal
Praieiro, no Recife, boletim dos postos de salvamento e da Diretoria de
Documentação e Cultura da Prefeitura,  distribuído
aos domingos, extravasava sua repulsa pelas praias de Fortaleza, classificando-as
como praias de cavalos, praias de jeeps e praias de ébrios. Lembrava que no
sentido oeste, a Praia do Pirambu se tornara imprópria para banhos porque o
serviço de esgoto despejava ali seus dejetos. 
A classificação em praia dos
cavalos
e dos jeeps devia-se ao costume dos que passeavam a cavalo e de carro pelas
praias, poluindo o ambiente e pondo em risco a segurança dos frequentadores.  A praia dos ébrios eram as situadas nas
proximidades do porto onde a população pobre habitava e tinha nos botecos uma
oportunidade de esquecer a miséria em que viviam. Na década de 50 a frequência à
praia aumentou e foram instalados dois postos de salvamento na Praia do Meireles.

praia+de+iracema+inicio+dos+anos+50 Fortaleza e a descoberta do banho de mar
 Praia de Iracema, início dos anos 50, já sob a influência do avanço do mar. Com o passar do tempo, a redução da faixa de praia se acentuou


Em razão da crescente afluência de público, em 1956 as
praias já eram consideradas sujas, com lixo acumulado. Reclamava-se da
“molecagem”, e da presença de “mulheres de má reputação” que invadiam trechos onde
estavam “as famílias”. O foco da atração chegava ao Iate Clube, onda  a praia se tornara muito concorrida. 

praia+formosa-1892 Fortaleza e a descoberta do banho de mar
 Praia Formosa 1892

A praia de Iracema perdera seu brilho, com casas mal
conservadas e o espaço diminuído. A praia Formosa já estava sendo ocupada por casebres, e pelos prostíbulos. Desde 1945 que a polícia com o incentivo
do Jornal católico O Nordeste, passou a reprimir a falta de moralidade reinante
nas praias. A igreja associava-se ao rigor policial, que impunha a repressão
como um recurso sadio, influenciado pelo autoritarismo na relação Estado e
sociedade na década anterior.

O exagero da caça policial também visava “os namoros
indecentes” e “os vagabundos” que geralmente se exibiam nas ruas. A imoralidade a
ser combatida era, sobretudo, oriunda das classes baixas e precisava ser
repelida, pois acontecia em espaço público.
A questão da virgindade era tratada com rigor
pela sociedade:  se o namorado “avançava o
sinal”, tinha que casar. Se a família de classe média tinha poder para exigir o
casamento, tudo se acomodava. Se não, “a vítima” era discretamente exportada para
o Rio de Janeiro, onde as moças do Nordeste, virgens ou não, tinham excelente
aceitação no mercado matrimonial, principalmente entre outros nordestinos
nostálgicos dos conterrâneos. Nas classes alta e baixa, ricos e pobres
resolviam o problema sem maiores complicações. 

traje+de+banhoA Fortaleza e a descoberta do banho de mar
os trajes de banho eram condenados, em nome da moral e dos costumes 
  
O uso de calções e maiôs nas praias jamais deveria ser
adotado por pessoas católicas, e recomendava-se aos confessores que não
absolvessem os fiéis que confessassem o uso destas vestimentas. Até o traje de
calção nas ruas em geral, praticado pelos que se dirigiam às praias, passou a
ser combatido.

fotos do Arquivo Nirez
extraído do artigo de Gisafran Nazareno Mota Jucá
Fortaleza: cultura e lazer (1945-1960), 
publicado no livro Uma nova história do Ceará

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mfgprodema@yahoo.com.br

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