da cidade, de preferência no andar superior de velhos casarões, vizinhos ou
próximos a casas comerciais. A polícia realizava rondas frequentes nas ruas
mais procuradas pelos boêmios.
ambulantes com os carros de praça, os
automóveis dos postos Mazine, Vitória, Nove e Pará, da Praça do Ferreira. Mediante pagamento de uma boa gorjeta, os
motoristas levavam os casais à Praia do Futuro, então sem asfalto e sem risco
de assalto. Ficavam fumando, sentados numa pedra, num monte de areia contando
as estrelas no céu, enquanto o banco traseiro do carro servia de quarto de
motel. Era incômodo, as moças ficavam “faladas”, mas ninguém deixava de namorar
por causa disso. A polícia agia com
frequência no contraditório combate à prostituição, que não podia nem seria
compensador extinguir.
caça” era dirigida aos desregrados, aos alcoólatras, e às mulheres
tuberculosas. Na Coréia, um dos bairros miseráveis localizados na Volta da
Jurema, situavam-se vários cabarés, um
deles, chamado de ”coaça”, estava localizado bem próximo aos grandes clubes e a
belas residências. Ali na Coréia, em casas toscas habitavam mundanas, maconheiros, ladrões
e criminosos “procurados”.
contra os prostibulos. Em Porangabuçu e no Campo do Pio também residiam
mulheres suspeitas, que costumavam ser apanhadas por rapazes em automóveis,
muitas vezes dirigindo embriagados. O Arraial Moura Brasil representava uma das
zonas perigosas, bem próximo ao centro, onde crianças e adolescentes conviviam
com prostitutas. Calculava-se em cerca de 800 prostitutas no bairro, também conhecidas como as ‘mulheres do curral”, onde a água escorria pelo calçamento e poucos casebres dispunham de sanitários.
Deodoro, as casas suspeitas animavam as noitadas de pândega, gerando protestos
contra a gritaria e a bebedeiras, com as mulheres em trajes inadequados. No
Cercado Zé Padre, nas ruas desertas e escuras, também se encontravam mocinhas
prostituídas.
Em 1947 anunciou-se uma medida saneadora. O secretário de Polícia
comprometeu-se a sanear moralmente o trecho central da cidade que servia de
zona livre. A intenção de transferir a prostituição para locais distantes do
Centro, apesar de ser prioritária, foi sendo protelada pelas circunstâncias
problemáticas que envolviam diferentes opiniões e ameaçavam uma segura fonte de
renda para seus agenciadores. Na
surdina, as autoridades policiais tinham um pacto com o meretrício. Enquanto
isso, em quarteirões inteiros das ruas do Centro, como a Barão do Rio Branco,
Major Facundo, Sena Madureira, Pessoa
Anta e na vizinhança dos clubes elegantes, pontilhavam as alegres pensões.
Até as tradicionais retratas, que anteriormente
representavam um dos principais meios de animação popular, realizadas em praça
pública, iam perdendo seu significado, pois afetavam os interesses e a tradição
das “boas famílias”. Em 1948 tentou-se reativar as retretas do Passeio Público,
mas as recatadas senhoras sentiam-se inseguras na outrora concorrida praça, em
razão da vizinhança de cabarés e casas suspeitas.
Legião Brasileira de Assistência (LBA) eram denunciadas por serem utilizadas por meretrizes que recebiam
proteção de pessoas de recursos. A resposta da LBA aos ataques agravou a situação,
decidindo vender as casas e lançando diversas famílias ao desabrigo. A Delegacia de Ordem Política e Social
organizou uma campanha contra o meretrício, mas o próprio jornal defensor da
medida em defesa da moral pública (O Nordeste), reconhecia os exageros cometidos.
foram ameaçadas de despejo pela Secretaria de Polícia, pois algumas famílias exigiam
a transferência dos prostíbulos pra outros locais.
pública, o combate à prostituição e malandragem criou um clima de medo
constante nos bairros pobres. O “regime da lata”, ou seja, o trabalho gratuito
e forçado dos presos em obras públicas foi uma imposição do secretário de
Segurança Cordeiro Neto, que ganhou prestígio e foi eleito prefeito da cidade.
homossexuais que vadiavam pelas ruas de Fortaleza e os condenou ao “regime da
lata”. Eles passaram pela Praça do Ferreira, num caminhão da polícia, rumo à
tarefa que lhes fora imposta. Na Praça do Ferreira, naturalmente, levaram a
maior vaia. Um dos presos, um negro alto, forte e largo como um armário, que
destoava no meio dos rapazes, reagiu às vaias distribuindo “bananas” e
explicando com orgulho: Não sou veado, eu sou é ladrão.
texto de Gisafran Nazareno Mota Jucá
cultura e lazer (1945-1960)
livro Uma Nova História do Ceará.
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