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Enquanto
a cidade via o centro de Fortaleza se esvaziando com a ausência de novos
investimentos e empreendimentos, e a fuga dos equipamentos existentes ocorria,
quase que simultaneamente, a valorização da orla marítima, desprezada durante
décadas como local de moradia e lazer. 
Fortaleza+-+Praia+de+Iracema+-+1930_1 Beira-Mar a Avenida que mudou a cidade
Fortaleza+-+Praia+de+Iracema+-+1931 Beira-Mar a Avenida que mudou a cidade

A
ocupação da orla começou pela Praia de Iracema, a partir do final da década de
20, com a abertura de um sistema de avenidas em 1927, ligando o centro à Praia
de Iracema (chamada de Praia do Peixe até 1925). Foi um prenúncio da emergência
dos anos 30 em diante  da região leste,  enquanto área residencial nobre e como lugar
de uma nova fonte de lazer: o banho de mar. O movimento nesse sentido foi
iniciado com a construção da bela mansão de veraneio, a Vila Morena, em 1928.  A seguir vieram outros bangalôs, além de bares
e clubes praianos.
Fortaleza+-+Clube+do+N%C3%A1utico_3 Beira-Mar a Avenida que mudou a cidade

Em
1950, o Náutico Atlético Cearense trocou sua minúscula sede da Praia Formosa
pela monumental sede da Praia do Meireles. Ocupando uma área considerável, numa
região ainda pouco valorizada, à beira mar – mas com a frente voltada para a
avenida, portanto, de costas para o mar – o Náutico sentia orgulho de seu
palácio alviverde, e os abriam seus salões para os visitantes de todos os
lugares do Brasil e até do exterior. 

Mas
a descoberta do potencial turístico e comercial da região do Meireles ainda demorou
algum tempo. Até o início da década de 1960, a única edificação relevante na área,
era o Náutico. No mais, era um local de veraneio, com muita vegetação, algumas
casas de pescadores e vários estabelecimentos que exploravam a prostituição.
   
A
construção da avenida, iniciada em 1961 no Governo do prefeito Manuel Cordeiro
Neto (1959-1963), de imediato, expulsou a zona de prostituição para a área do
farol do Mucuripe e os pescadores para o alto das dunas e para a Varjota, onde
fora construída a Vila dos Estivadores, em 1945.

A abertura da via, que objetivava ligar o centro ao
Porto do Mucuripe,  intensificou a
ocupação e integrou a orla marítima à malha urbana da cidade. A valorização da
praia passa a ser percebida inclusive em termos financeiros, além de se tornar
um espaço de lazer para a população. A especulação imobiliária logo descobriu a
Avenida Beira Mar. 

A partir dos anos 1970, o local transformou-se na principal
zona de lazer e o local mais procurado para a instalação de negócios ligados ao
turismo e ao entretenimento.
Nas décadas de 1980 e 1990 os restaurantes cedem
lugar aos hotéis e edifícios residenciais de alto luxo. Durante o dia a praia
passou a ser frequentada pela população de baixa renda, e o calçadão por
copistas e turistas.  

Além dos hotéis, bares, restaurantes, lanchonetes e
barracas, a Beira Mar conta uma grande diversidade de usos ao longo de seus 3
quilômetros de extensão,  com equipamentos
como o Jardim Japonês, inaugurado em 2011 em homenagem a passagem do centenário
da imigração japonesa no Brasil, espigões urbanizados, que contém o avanço do mar sobre o calçadão, além de servirem como local de lazer e contemplação, e a Feira de Artesanato, que conta com mais de 600 boxes. 

A Avenida
também ganhou uma associação de amigos, que se reúnem para fazer
exercício, bater papo na Praça dos Estressados, local que conta com bancos e
equipamentos de ginásticas. Dentre diversas outras opções de diversão e lazer, podem ser encontrados quiosques de estabelecimentos bancários, trenzinho da alegria para as crianças, e uma variada oferta de serviços de passeios turísticos e shows de humoristas locais. 

 
A Avenida Beira Mar começa na Praia de Iracema, na
Rua dos Ararius e termina na confluência com a Avenida da Abolição, no
Mucuripe. A orla da Beira-Mar no trecho Praia do Meireles, é  metro quadrado mais caro da cidade, e a
especulação imobiliária torna-se cada vez mais forte na determinação da
ocupação da cidade em geral e da orla em particular.





Atualmente a Beira-Mar passa por uma nova reforma, uma obra de requalificação orçada em R$ 232 milhões, dos quais R$ 187 milhões estavam assegurados pelos ministérios do Turismo e da Infraestrutura. Iniciada em março de 2013, tinha previsão de entrega em 2015. O projeto prevê a reforma do Mercado de Peixes, um novo espigão localizado em frente ao clube Náutico, um aterro hidráulico, entre as avenidas Rui Barbosa e Desembargador
Moreira, pavimentação das vias de tráfego de
veículos, estacionamentos, passeios, novos quiosques, sanitários e
embarcadouros, além de tratamento paisagístico, requalificação da feira
de artesanato e da área de manutenção das jangadas. O passeio terá
também ciclovia, pista de cooper e quadras de esporte na areia. 

Tudo está atrasado. O novo Mercado de Peixes, que seria o primeiro a ser concluído, em até 30 dias após o início da obra, até hoje não foi feito, nem tem mais previsão de data. Com relação aos demais itens, a maioria sequer foi iniciado, e os que estão em andamento, como o espigão, também não tem prazo definido para conclusão, em razão, segundo dizem, da falta de repasse das verbas pelo governo federal. 

fotos do arquivo Nirez

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0 comentário

  1. estive em Fortaleza,e fiquei muito triste em ver o centenário e histórico farol do mucuripe em completo estado de abandono….peço as autoridades do estado,q faça alguma coisa para salvar este marco histórico cearense!!!…..

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mfgprodema@yahoo.com.br

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