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Rio_banabuiu_em_morada_nova_CE Antônio Conselheiro – de Quixeramobim a Canudos
Rio Banabuiú, visto da ponte próxima à sede do município de Morada Nova 
(foto wikipédia)

Nas águas do
Banabuiú, Antônio Conselheiro lavou a sua sina e o seu batismo foi dado por
Dona Guidinha do Poço – aquela que amou um negro,  matou o marido nobre, foi condenada,
enlouqueceu e vagou pelos insondáveis caminhos da loucura. Também seu afilhado
Antônio, o que se assombrou com o sangue da brutal luta entre Araújos e
Maciéis, seria condenado a uma tragédia maior. 

Antônio, pacato comerciante,
fracassou no comércio e no casamento. Nem mesmo os macios lençóis de Joana – a imaginária,
foram capazes de consolar a sua sede de justiça. Outra fogueira queimava dentro
deste homem… No coração de Antônio ainda ardiam os sermões do santo padre
Ibiapina e a Confederação do Equador marcando para sempre os seus sonhos de
liberdade.

A voz de um
anjo torto ordenou: Antônio, o deserto é tua terra, o céu é a tua casa e o teu
pão a oração e a penitência… é preciso se purificar de todos os pecados e
guiar o povo pobre pelas sendas da salvação.
Os pés de Antônio sangraram pelas
vastidões dos latifúndios na semeadura da bondade.  Em terras do Cariri, Antônio ouviu o mito
tapuia da pedra da batateira… a Serra do Araripe, grávida de oceanos
milenares, esperava um sinal sangrado para rebentar o coração de pedra e
inundar os sertões. Antônio agora é guardião dos segredos dos pajés. O Sertão
vai virar mar. O Sertão já foi um mar, crianças famintas brincam com fósseis de
peixes antediluvianos como se fossem manadas de bois imaginários. Roído de fome
e sede, Antônio juntou o seu rebanho de deserdados e ouviu de Dom Sebastião, o
Encoberto, que a sua missão era erguer a cidadela dos justos e dos bem-aventurados,
em Canudos. 
canudos Antônio Conselheiro – de Quixeramobim a Canudos
 Ruínas da igreja velha de Santo Antônio em Canudos (imagem:http://www.girafamania.com.br)

Esta terra
amarga é presente de Deus, é preciso plantar o mel da oração e a semente do
amor. De barro e pedras, de suor e varas retorcidas das caatingas, foi erguido
o labirinto de casinhas e um templo de taipa, com altas torres para o sol dourar o mundo nos crepúsculos sertanejos. A igreja disse: não! Os latifundiários
disseram: não!  E os canhões roncaram a
morte. 

canudos2 Antônio Conselheiro – de Quixeramobim a Canudos
 Corpo de Antônio Conselheiro
O povo resistiu com seu coração maior do que todas as tiranias. Mas os
exércitos da República não tinham fim e os mortos se multiplicaram como pedras
e as águas do Vaza-Barris ficaram tintas com o sangue camponês.  Os urubus afinaram os bicos no banquete e os
cães uivavam ao lado dos degolados. O frágil barro das casas de Canudos se
misturou ao pó dos mortos e o vento soprou com fúria nunca antes tão violenta. E
o deserto engoliu gritos, orações, sonhos, armas e utopias. Dom Sebastião não
saiu do mar com seu exército alumioso para lutar ao lado dos deserdados e a
maldição dos poderosos se abateu sobre o povo. 
canudos1 Antônio Conselheiro – de Quixeramobim a Canudos
 seguidores do Conselheiro presos pelas tropas do Exército no Arraial de Belo Monte, em Canudos. (imagem: imagem:http://www.girafamania.com.br)

Mas segundo
a profecia virá o novo tempo de lutas e a terra pertencerá ao povo e o pão será
coletivo e repartido na mesa farta. Muito sangue há de correr até que o Sertão
vire mar de fartura. O vento ainda sopra a fúria dos despossuídos e a palavra
liberdade foi desvendada nos monólitos dos sertões de Quixeramobim.

Vivam Antônio
e o Sertão. Esta terra tem que ser do homem.  
extraído da publicação: Ceará nos anos 90 – Censo Cultural
 

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