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Enquanto a cidade via o centro de Fortaleza se esvaziando com a ausência de novos investimentos e empreendimentos, e a fuga dos equipamentos existentes ocorria, quase que simultaneamente, a valorização da orla marítima, desprezada durante décadas como local de moradia e lazer.
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Poço da Draga, na Praia Formosa (1930 – Arquivo Nirez)  
Durante muito tempo a orla marítima foi usada apenas como local de embarque e desembarque de pessoas e mercadorias. Os moradores da praia eram pessoas de classes menos favorecidas, composta em sua grande maioria por pescadores, que ganhavam o sustento do trabalho no mar.
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Enseada do Mucuripe (fevereiro de 2011) 
As áreas junto à costa serviam como depósito de lixo, como a encosta que separa o Passeio Público do mar. Naquele local, em épocas passadas eram despejados os refugos do gasômetro, localizado ao lado da Santa Casa, que deixava correr um rio de alcatrão quente em direção a praia. O lugar era chamado de “cinza”.
Uma prova da pouca importância que tinha o litoral na paisagem urbana de Fortaleza está na constatação que os estabelecimentos mais destacados do centro histórico de Fortaleza (exceto o Forte e o Passeio Público) foram construídos afastados do litoral ou como obstáculos à visão e ao acesso a praia: Santa Casa, Cadeia, Estação Ferroviária (esta foi erguida com a frente voltada para o sertão).
No início do século XX, influenciado pelas práticas civilizadas da Europa, que valorizavam a higiene e o saber médico oficial, a praia começou a ser usada como local para a prática de esportes e de banhos de mar, vistos como hábitos saudáveis para o corpo.
Em Fortaleza o processo de valorização do litoral começou de fato, na década de 1920, com a construção o palacete da família Porto, que depois viria a ser conhecido por “Estoril”. 
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Pescadores na Praia do Meireles (acervo IBGE)
A chamada Praia do Peixe, uma conhecida colônia de pescadores, vê surgirem pequenos palacetes para veraneio. Aos pescadores restou deixar as habitações na orla para se concentrarem na pequena encosta no local correspondente ao espaço entre as atuais avenidas Historiador Raimundo Girão e Monsenhor Tabosa.
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Navios no porto, Praia de Iracema, 1939 (arquivo Ah, Fortaleza!) 
O litoral passou a ser valorizado igualmente como local de romantismo e área de deleite e contemplação para as classes dominantes (daí o surgimento do turismo pelas orlas marítimas). Dessa maneira a praia vai se tornando um espaço de lazer, primeiro para as elites e depois para as camadas populares, o que não impediu a segregação sócio-espacial, ou seja, havia a praia dos pobres e praia dos ricos.
Assim, a região portuária, chamada Poço da Draga, mais tarde Porto do Mucuripe, era  desaconselhável para “pessoas de bem” pela presença de pobres que trabalhavam ou moravam nas proximidades, e por ser área de prostituição. 
O mesmo acontecia com as praias próximas aos “currais” do Arraial Moura Brasil e dos casebres do Pirambu, freqüentadas quase que exclusivamente por meretrizes e favelados.
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casas de jangadeiros na Beira-Mar (acervo IBGE)
A construção da Avenida Beira Mar em 1963 ensejou a constituição do bairro do Meireles e a instalação de vários clubes sociais no litoral leste nos anos 60. Antes esses clubes ficavam no centro.
A exemplo do que já ocorrera na Praia de Iracema, a população de pescadores também foi sendo expulsa para os morros e encostas próximos.
Depois da Avenida Beira Mar a orla foi definitivamente incorporada à malha urbana da cidade, e a valorização da praia passa a ser percebida em termos monetários.
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Praia de Iracema em fevereiro de 2011
A Praia de Iracema, que até então era local de veraneio nas primeiras décadas do século, transformou-se partir das décadas de 60/70, uma das principais zonas de casas, edifícios, hotéis e restaurantes de luxo, direcionadas para moradores e turistas de alta renda. 
Dada a pequena oferta de terrenos com frente para o mar ou nas proximidades do Meireles e Beira Mar, especuladores passaram a investir na Praia do Futuro a partir dos anos 70, ocasião em que foi feita a interligação viária da Praia do Futuro, através do prolongamento da Avenida Santos Dumont. 
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Final da Avenida Santos Dumont, acesso a Praia do Futuro (fevereiro de 2011)
Apesar das expectativas, a aposta do mercado imobiliário não vingou, devido a problemas estruturais e naturais, tão evidentes que espantaram os eventuais compradores. 

pesquisa:
Ah, Fortaleza – 1880-1950 – 2a. edição – diversos autores
Fortaleza descalça, de Otacílio de Azevedo
História do Ceará, de Airton de Farias
Revista Fortaleza, fascículo 10

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0 comentário

  1. É lastimável como a "Praia do Futuro" foi votada ao abandono pelas mais variadas forças políticas que comandaram a cidade de Fortaleza. A falta de planeamento urbano, turístico e social, promoveu o descalabro no investimento turístico, em que algumas unidades turísticas estão fisicamente cercadas pelas casas feitas em cima/dentro das ruas. Um investimento social/urbano na construção de casas/edifícios bem estruturados para a população local, com feiras de artesanato, mini mercados, praças de alimentação regional, loja do cidadão(com todos os serviços necessários e suficientes para a população local e turística), jardins públicos, etc…., seria na minha opinião uma reviravolta para a "Praia do Futuro".

    Que o seu belo trabalho continue com muita saúde.
    Zé Manel

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