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Imagine
viver num lugarejo com apenas 5 pessoas; o lugar tem outras casas, mas não tem
moradores, ou seja, nada de vizinhos. Também não conta com serviços de
fornecimento de água, energia elétrica, posto de saúde, nem internet. E todas as vezes que um
dos cinco moradores necessita de alguma coisa, precisa se deslocar em torno de 40
quilômetros, por uma estrada de terra até Parambu, sede do Município.
Cococi Cococi - A Cidade Fantasma do Sertão do Ceará
Cococi – bico de pena de Tarcísio Garcia 

cococi+vila+-+arag%25C3%25A3o Cococi - A Cidade Fantasma do Sertão do Ceará

 imagem Panorâmio – fotógrafo Aragão

O Sertão dos
Inhamuns fica na divisa Oeste do Ceará, em pleno semiárido, na faixa sub-equatorial que serve de intervalo entre a Floresta Amazônica e a Mata
Atlântica; é reduto da cobertura vegetal da caatinga, tanto arbórea quanto
arbustiva. A região é geologicamente denominada de Depressão Sertaneja.  É formado pelos municípios de Aiuaba, Tauá,
Arneiroz, Catarina, Saboeiro e Parambu.

Cococi é
distrito de Parambu, distante 40 km da sede e cerca de 450 km de Fortaleza. Nasceu dentro de uma enorme fazenda familiar, obtida pelo sistema de
sesmaria.  A obtenção de grandes latifúndios pelo regime de
sesmarias na região dos Inhamuns, foi iniciada por membros da família Feitosa,
que ocuparam a barra do rio Jucá. A distribuição de sesmarias, visava tornar a terra produtiva, o povoamento e o desenvolvimento do lugar, e o dono da sesmaria deveria ter recursos
suficientes para atrair colonos e promover esse povoamento. O proprietário utilizava a terra para criação de gado, ao tempo que providenciava a abertura
de caminhos entre a nova fazenda e outros povoados, e a fontes de água. Aos
colonos que chegavam em busca de trabalho e pouso, eram oferecidos um lote de
terreno e alguns insumos para que os mesmos se estabelecessem. (Alguns historiadores dizem que a prática de doar terrenos aos colonos era ilegal e contrariava as normas de concessão da Sesmaria.) 

cocociigreja Cococi - A Cidade Fantasma do Sertão do Ceará
A igreja é o
único imóvel preservado de Cococi. De 29 de novembro a 8 de dezembro, o
Distrito recebe cerca de 300 pessoas por dia que vem participar das novenas dedicadas
a N. S. da Conceição. (foto Panorâmio – fotógrafo Aragão)

Segundo os
historiadores, os coronéis Francisco Alves Feitosa e Lourenço Alves Feitosa
chegaram ao sertão dos Inhamuns por volta de 1710 e ali estruturam a maior
comunidade rural da Capitania do Ceará. O comissário Lourenço Alves Feitosa
chegou a ter 22 sesmarias e com o seu irmão Francisco Alves Feitosa dominaram
uma área de aproximadamente 30.000 quilômetros quadrados.

E foi nesse
contexto que surgiu o povoado, mais tarde Vila de Cococi, fundada no
início do século XVIII pelo citado Francisco Alves Feitosa, o primeiro coronel
da família, transformando-se no reduto maior, marco principal do império dos
Feitosas, a mais poderosa oligarquia da história da colonização cearense. Sua
capela foi construída em 1740, pelo coronel fundador da vila, dedicada a N. S.
da Conceição.

cococi1 Cococi - A Cidade Fantasma do Sertão do Ceará
imagem: Diário do Nordeste 

Os enormes
casarões que formam a larga e única rua da antiga cidade, pertencentes aos
diversos ramos da família, guardam memória dos dramas e feitos daqueles que ao
longo dos séculos dominaram os sertões quase selvagens dos Inhamuns. Histórias
fantásticas de sinhazinhas, como Ana Feitosa, que morreu picada por uma das
serpentes que criava. De Maria Alves Feitosa, cujo marido vivia embriagado e costumava
agredi-la, a qualquer hora, em qualquer lugar. Consta que um dia Dona Maria
Alves foi agredida pelo marido enquanto acompanhava uma procissão; ou de
Francelina, amante do major Feitosa, o último chefe do clã, que ao morrer lhe
destinou grande parte da herança. Episódios
heroicos e tenebrosos da luta pela conquista de terra, guerras entre famílias
pela posse de gado e gente, façanha dos capitães-mores, exterminando índios,
escravizando negros e domesticando mestiços.
No
recenseamento geral de 1950, promovido pelo IBGE, o atual município de Parambu
e seu distrito Cococi, eram ambos distritos de Tauá, do qual foram
posteriormente desmembrados e suas populações totalizavam 15.458 habitantes. No
Censo demográfico realizado 10 anos depois, em 1960, Cococi já aparece como
município, com 4.064 habitantes, 2.181 homens e 1.883 mulheres. 
parambu+-+pra%25C3%25A7a+da+matriz Cococi - A Cidade Fantasma do Sertão do Ceará

 Parambu – Praça da Matriz nos anos 50 (IBGE)
 

Acontece que
durante os anos 50, tanto Parambu quanto o Cococi foram elevados a condição de município,
Parambu em 1956, e Cococi no dia 17 de outubro de 1957, pela Lei Estadual 3858.
 Passados pouco mais de oito anos, uma
nova lei estadual (n° 8339) de 14 de dezembro de 1965, extinguiu o município de
Cococi que voltou a ser distrito subordinado a Parambu.

Os motivos nunca ficaram claros: a versão mais conhecida conta que o prefeito teria cometido irregularidades como desvio de verbas destinadas ao município, o que teria desagradado aos militares do Governo
Federal, que teriam determinado a extinção.



cococi2-panoramio Cococi - A Cidade Fantasma do Sertão do Ceará

cococi+casar%25C3%25A3o+-+arag%25C3%25A3o+panoramio Cococi - A Cidade Fantasma do Sertão do Ceará



 fotos Panorâmio – fotógrafo Aragão 
http://www.panoramio.com/user/7386634/tags/CIDADE%20DE%20PARAMBU%20-%20COCOCI

Revoltados
com a perda de autonomia, os Feitosas começaram a se retirar de Cococi, que
acabou se tornando economicamente inviável. Pouco a pouco foram seguidos pelos
demais moradores, em razão da falta de oportunidade de trabalho e de
fornecedores de gêneros e insumos, já que eram os membros do clã que moviam a
economia local.

Na sua curta existência como município, Cococi contava com uma
praça, hotel, cartório, posto fiscal, câmara municipal e amplas residências,
além da matriz. A cidade nasceu com a chegada dos Feitosas e morreu aos poucos, à medida que eles se foram.
Dos velhos tempos, restaram a igreja matriz, cinco habitantes, e quase nenhuma
expectativa, a não ser a vinda de alguns curiosos, que de vez em quando visitam
as ruínas e o velho cemitério, que paradoxalmente, são as maiores atrações do
lugar.



Fontes:
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – IBGE – 1959
O Ceará dos Anos 90, censo cultural.
IBGE – censo demográfico de 1960
IBGE – Cidades
– 2010

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mfgprodema@yahoo.com.br

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