O areal
baldio do antigo largo do Paiol transformou-se em logradouro seguidamente
conhecido por denominações tais como largo da Fortaleza, praça do Hospital e
praça da Misericórdia. Por fim, oficialmente denominou-se
Praça dos Mártires em homenagem aos participantes da Revolução
do Equador, executados no local, em 1825.
Situado na
parte mais antiga da cidade, transformado em um dos seus principais
equipamentos culturais, o Passeio Público se estendia pelas encostas da colina
da misericórdia, ladeado pelo velho Quartel da Força de Linha e pela fortaleza
consagrada a N. S. da Assunção.
Ocupava primitivamente, uma área muito mais
extensa desse elevado, hoje compreendida entre a Rua Dr. João Moreira e a
Avenida Presidente Castelo Branco. Dispunha-se ao longo da descida da encosta,
em três planos de alturas diferentes, inter comunicados por escadarias. O primeiro plano – o único que restou do velho
Passeio Público – assentado no cimo da colina, passou a ser chamado de Praça
dos Mártires, por ali terem sido sentenciados os líderes da República do
Equador, presidida no Ceará por Tristão Gonçalves, irmão do Senador Alencar.
Nesse largo, então denominado Campo da Pólvora, Padre Mororó e Pessoa Anta
foram os primeiros a serem fuzilados, em 1825.
Em 1888, nesse primeiro plano,
construiu-se a bela Avenida Caio Prado, voltada para o mar.
segundo plano sustentava-se por uma muralha que lhe servia de arrimo. Entre
pitombeiras e pitangueiras, uma escultura da deusa Diana no Banho, de Jean
Goujon, um lago e repuxos em cascata artificial ambientavam este nível. Por algum tempo, nele funcionou o Cassino
Cearense, de Júlio Pinto – antes de sua instalação na Rua Major Facundo – com um
bar famoso pelos refrescos de murici, tamarindo e outros frutos silvestres, com
jogos de bilhar francês e outras diversões.
O terceiro
plano, um sítio muito arborizado e com touceiras de bambus, estendia-se ao
nível da Praia Formosa. Seu aprazível parque mantinha um pequeno zoológico de
emas, cutias, veados, cisnes e patos, entre dois torreões encimados por domos
de estilo indiano.
As águas do Pajeú formavam um lago, no meio do qual, sobre
uma coluna de pedra, um grave Netuno de tridente em punho, olhava para o mar. Tempos
depois, por volta de 1914, esse Netuno foi levado para o Parque da Liberdade,
popularmente conhecido por Cidade da Criança, para ornamentar o lago que se
originou da antiga Lagoa do Garrote.
Draga, um lagamar construído pelo represamento das águas do Pajeú em sua foz,
formando o cais da Ceará Harbour. Servia às pequenas embarcações, às pescarias
com landuá, linha e tarrafa e aos concorridos banhos de mar nas noites de lua
cheia, quando o brilho do luar dispensava os combustores de iluminação da Ceará
Gáz Company.
radicado em Fortaleza, o embelezamento do Passeio Público. Nos jardins
arborizados ele instalou uma pista de patinação e um tanque circular com
repuxos, adornado com jarrões de louça chinesa. Levantou uma caixa d’água de
admirável arquitetura para a época, o coreto de música, com sua elegante
cobertura em forma de pirâmide e o botequim no primeiro plano. Mais tarde
instalou-se nesse local o café Caio Prado, de Júlio Pinto.
esculturas clássicas vindas da Europa, suas alamedas serviram ao footing dos
fins de tarde, ao som das bandas do 15° Batalhão da 1ª Linha, do Batalhão de Segurança
e da Escola de Aprendizes Marinheiros.
a descaracterização desmontaram aos poucos oconjunto
paisagístico do Passeio Público, propiciando situações que redundaram
na posterior cessão de partes do logradouro para usos diversos.As
descaracterizações físicas, se não do 1º. Plano, mas das suas
vizinhanças, já vinham de muito tempo. De fato, por volta de
1867, quando ainda não se definira a aparência do logradouro,perto do
canto noroeste, do outro lado da rua Formosa, foi implantada a escura e
volumosa estrutura metálica do gasômetro que garantia a iluminação
da cidade.
A bem da
verdade, deve-se pois dizer que as doações dos planos de nível
inferior decorreram do próprio abandono a que desde longo tempo haviam sido
relegados. No começo do século XX, o 3º. Plano do Passeio ficou completamente abandonado. Diante de
tal situação, irreversível, o 3o. Plano e seu lago, desapareceram, sacrificados
para construção de uma termoelétrica explorada por uma firma
inglesa. Na ocasião, os fortalezenses já haviam
esquecido o lago romântico, formado com as águas do Pajeú.
3o. Plano, com seu lago, restou o patamar intermediário, o 2o. Plano,
entretanto, já abandonado desde o início do século, como depunha
Gustavo Barroso: No segundo [Plano] o mato invade tudo e o cassino
cai aos pedaços. Demolido o Cassino, pouco tempo
permaneceu o 2º Plano como espaço sem serventia explícita, pois logo, e
por muitos anos, se transformou em palco de atividades atléticas,
ou melhor, em campo de futebol de uso popular.
plano perdeu sua função de acesso ao lago e à praia. Logo a área descampada ganhou novos usos, um dos quais ainda um
tanto desconhecido, novidade assinalada pela imprensa: a preparação do terreno para construção do campo de futebol do Fortaleza Football Club. Em 1963, em
dias mais próximos, o 2o. Plano foi cedido pela Prefeitura ao Exército,
a fim de acolher obras militares de emergência, embora atualmente
esteja ocupado com edificações de porte, de propriedade do quartel da 10ª Região Militar.
Atualmente, revitalizado e recuperado, o Passeio Público continua sendo palco de eventos e local de encontro dos fortalezenses e visitantes.
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