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Cabriole Os Cabriolés de Norberto Golignac

Um cabriolé (do francês Cabriolet)   é uma carruagem leve,  de duas rodas, puxada por um animal, normalmente um cavalo. Podia  acolher dois passageiros que ficavam virados para a frente. O condutor/cocheiro fica por trás da carruagem, num apoio próprio, de onde podia  facilmente manobrar o cabriolé. Foi criado no início do século XIX em França.

E Fortaleza teve o privilégio de contar com esse tipo de veículo,  por um desses acasos que fez com que um francês viesse dar com os costados em terras alencarinas. Por volta de 1910, Norberto Golignac, nascido em Paris, no dia 7 de agosto de 1870, construía artesanalmente, com suas próprias mãos, elegantes e resistentes cabriolés, que serviam a população como meio de transporte e de lazer.

Fort+018a Os Cabriolés de Norberto Golignac
na Fortaleza do início do século, havia grande número de animais circulando pelo centro. O principal meio de transporte era o bonde puxado a burro (arquivo Nirez) 


O habilidoso artesão era visto frequentemente,  comprando ferramentas, tintas, parafusos, pregos, feixes de mola e tudo mais que servisse à confecção e reparo dos seus veículos.

Trabalhava o dia inteiro às vezes entrando pela noite, na oficina iluminada por dois enormes e perigosos lampiões de acetileno.  O mais belo cabriolé que fabricou foi um modelo especial, encomenda do industrial e comerciante Alfredo Salgado. Uma verdadeira obra de arte, admirada por onde passasse.

Fabricou outro veiculo para o industrial Dionísio Torres, dono de uma fábrica de guarda-chuva, localizada na esquina das Ruas Major Facundo com Pedro Borges, na Praça do Ferreira.
major Os Cabriolés de Norberto Golignac
o piso irregular das ruas era um empecilho a mais para o desenvolvimento dos transportes (arquivo Nirez) 


A essa época o transporte era feito em bondes de burros em apenas três linhas: Outeiro, Benfica e Calçamento de Messejana. Cargas, mudanças, etc, eram transportadas em carroças puxadas por burros. Os cabriolés serviam para o transporte de pessoas aos mais distantes  pontos da cidade – missas, passeios, visitas.

Na noite em que não tinha o que fazer, Norberto Golignac  comparecia às serenatas com os boêmios familiares à fisionomia da cidade: Ramos Cotoco, Pompílio, Abel Canuto, Quintino Cunha e muitos outros que cantavam, tocavam violão ou flauta. Ninguém perdia uma noite de luar na Fortaleza antiga. Toda a boemia reunida saía pelas ruas em algazarra, parando aqui e ali para molhar a goela. As bodegas abriam suas portas em plena madrugada para atender aos seresteiros.

Francês de nascimento, cearense por opção e por gosto, Norberto Golignac  adaptou-se aos hábitos e costumes da terra,  permanecendo em Fortaleza até o seu falecimento, em 31 de julho de 1919.

da obra de Otacílio de Azevedo

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0 comentário

  1. Assim, não vale, Fátima…tinha me esquecido totalmente do Cabriolé!!!
    Acho que vou criar outro blog: "De Cabriolé, em Fortaleza", rsrs.
    Fui lá no Ceará em Foto e História e me deparo com uma linda matéria sobre Rezadeiras : Delícia! Venho aqui e encontro uma graça de Cabriolé e sua história…
    Acho que, com o cabriolé, era bem melhor arruar…

    Veleu…muito!

  2. Acho que os cabriolés foram uma evolução além de serem mais confortáveis do que a sua cadeirinha de arruar, tanto para o passageiro quanto para os condutores. Além do que a cadeirinha era só para os ricos, donos de escravos.
    bjs, Lúcia, obrigada pela visita

  3. Como eu imaginei que já tinha comentário seu, ao meu, Fátima, vim conferir e digo que vc tem toda a razão: além de ser popular e bem confortável, o Cabriolé é mesmo uma evolução da Cadeirinha de Arruar..
    E mais: mesmo sendo criado por um francês é bem cearense…

    Beijos!

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