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O Cinema de Julio Pinto, inaugurado em 1909, foi o segundo cinema fixo de Fortaleza e funcionava na antiga Rua da Palma, atual Major Facundo. Tinha quatro portas de frente, duas para a sala de espera e as outras abriam para o escritório de uma fábrica de mosaicos. O salão de projeção ficava atrás, na mesma largura das quatro portas de frente. 
auto+001 O Cinematógrafo Júlio Pinto
A Rua Major Facundo e um fantástico conjunto de sobrados e casas térreas. 
(Arquivo Marciano Lopes)
Do lado esquerdo de quem entrava, ficava o aparelho projetor, marca Pathé, com um condensador cheio de água que era usada para refrescar a objetiva e impedir a combustão das fitas que eram de celulose e altamente inflamável.
Do lado direito ficava a tela; na sua frente, uma enorme cacimba coberta por grossas tábuas, sobre as quais ficava a pequena orquestra que tocava à noite durante as sessões: Pilombeta (piano), João Brandão (flauta), Manuel Nunes Freire (violão) Pedro Nanim (piston) e mais um músico que tocava rabeca.
O cinema empregava dois pintores de tabuleta, um dos quais reproduzia à tinta com cola os retratos dos artistas preferidos: Tom Mix, Charles Chaplin, Theda Bara, Asta Nielsen, Max Linder, Buster Keaton, e outros, além dos emblemas das fábricas patrocinadoras: Monogram, Nordisk, Pathé, Biograph.
Os cinemas ainda eram mudos: Júlio Pinto, Polytheama, Amerikan Kinema e o Di Maio. Foi Júlio Pinto o pioneiro do cinema falado. Um dia apareceu ali, um aparelho com o sistema “vitaphone”. O som era gravado em discos, que começavam a rodar no inicio da fita. Quando a fita quebrava, era preciso contar os quadros perdidos e intercalar pedaços de fita preta. Se não se fizesse essa substituição, o som ficava fora de sincronia com a imagem. Comumente as fitas eram divididas em quatro partes. Havia cinco minutos de intervalo entre as partes, espaço de tempo que se traduzia em grande algazarra. A platéia impaciente batia os pés e assobiava estridentemente. Quando o espectador sentava para assistir a uma fita, já sabia dos principais lances da história, pois tinha lido o programa resumido, distribuído à entrada ou mesmo na rua, de casa em casa. Os programas, porém, não contavam o final do filme o que não fazia muita diferença, já que todos sabiam que a mocinha casava com o herói e o bandido era castigado.    
Todos os cinemas daquela época expunham grandes cartazes que anunciavam os próximos filmes. Estas tabuletas eram postas nas esquinas da Praça do Ferreira e adjacências. Quanto a fita era muito boa, o preço era aumentado, de duzentos para quinhentos Réis. – uma exorbitância, diziam, só no Ceará se vê isso! – mas os cinemas estavam sempre lotados…
auto O Cinematógrafo Júlio Pinto
o primeiro automóvel a circular em Fortaleza foi este Rambler pertencente a Meton de Alencar e Júlio Pinto (Arquivo Nirez)
Foi Júlio Pinto que trouxe para Fortaleza o primeiro automóvel, em 1912. Seu motorista era um português chamado Rafael Dias Marques.
Fonte:
Fortaleza Descalça, de Otacílio de Azevedo.

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0 comentário

  1. Muito interessante! Nunca tinha ouvido falar dete Cinematógrafo, nem conhecia o termo, rsrsrs….
    Nossa Fortaleza, tinha tanta coisa boa !

    Muito legal!
    Ano novo de muita produção!

  2. Parabéns pelo artigo! Se me permite divergir apenas de um ponto. Creio haver um pequeno engano no último parágrafo que trata sobre o primeiro automóvel a chegar ao Ceará, pois há livros históricos e muitas matérias que afirmam que quem trouxe o primeiro carro ao Ceará foi o Engenheiro João Tomé que governou o Ceará de 1916 a 1919. Ele trouxe um automóvel Piccolo em 1907, portanto antes do Rambler que só chegou ao Ceará dois anos depois.
    http://coisadecearense.com.br/engenheiro-joao-tome/

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