Em 1867, José de Alencar publicou uma série Ao Imperador: Novas
Cartas Políticas de Erasmo. São sete cartas abertas dirigidas a Dom Pedro II,
das quais três tratam abertamente da defesa da escravidão negra no Brasil. O
escritor era então deputado no Rio de Janeiro, eleito pelo Ceará, e tentava
convencer ao imperador a abandonar a ideia da abolição dos escravos. O imperador fazia grande pressão pelo fim do
comércio humano – ameaçava até desistir do trono se os parlamentares não
votassem pelo fim dos cativeiros.
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D. Pedro II em 1870 |
Depois que a liberdade dos escravos se tornou uma conquista, a série de cartas desapareceu. Não entrou nas obras completas do escritor,
publicadas em 1959. Até serem redescobertas em 2008, pelo historiador paulista
Tâmis Parron, ficaram desaparecidas por 140 anos.
parecem mais simpáticos aos negros do que os argumentos em favor da liberdade. Nos
discursos pró e contra a escravatura do século XIX, os parlamentares se
baseavam em razões que hoje parecem insanas. Nenhum negro gostaria de ouvir,
por exemplo, o argumento abolicionista de que os africanos formavam uma raça
inferior e por isso era necessário parar imediatamente de trazê-los para o
Brasil, para que não prejudicassem o futuro do país.
escravidão tinham razões politicamente corretas. O mais conhecido deles, o
senador Bernardo de Vasconcelos, dizia que a África civilizava o Brasil,
portanto a imigração de negros africanos enriquecia a cultura brasileira.
defendia o sistema escravocrata por acreditar que os negros tinham um cérebro
menos dotado, mas porque via neles um grande potencial de crescimento e auxílio
no progresso do país. Chega a citar negros ilustres da história brasileira,
como Henrique Dias, herói da expulsão dos holandeses em Pernambuco: “sem a
escravidão africana e o tráfico que a realizou, a América seria hoje um vasto
deserto”, diz Alencar na segunda carta ao Imperador. “Três séculos durante, a
África despejou sobre a América a exuberância de sua população vigorosa”.
história floresceu por meio da escravidão de civilização decadente. O trabalho
forçado seria uma “educação pelo cativeiro”, ou seja, um modo de tirar
indivíduos da selva e dar-lhes acesso a instrução. O escravo durante anos de
servidão, iria adquirir qualidades morais suficientes para ser um novo membro
da sociedade. Como mostra desse fenômeno, Alencar cita o alto número de
escravos alforriados no Brasil que compravam a liberdade ou a ganhavam de
presente.
marcha da humanidade seria impossível, a menos que a necessidade não suprisse
esse vínculo por outro igualmente poderoso. Desde que o interesse próprio de
possuir o vencido não coibisse a fúria do vencedor, ele havia de imolar a
vítima. Significara, portanto, a vitória na antiguidade uma hecatombe; a
conquista de um país, o extermínio da população indígena”.
nacionais contra influência estrangeira. Alencar e seus colegas do Partido
Conservador usam esse argumento para defender a exploração dos negros. A
escravidão, para eles, fazia parte da tradição brasileira – era importante para
a identidade nacional.
abolicionistas da França e da Inglaterra, as duas grandes potências da época.
Alencar pede a D. Pedro II que pare de se preocupar com a opinião internacional
e valorize as instituições brasileiras. “São muitos os cortejos que já fez a
coroa imperial à opinião europeia e americana. Reclama sério estudo cada um
destes atos, verdadeiros golpes e bem profundos, na integridade da nação brasileira”.
de lado e aceitar a influência estrangeira pode salvar um país de costumes
bárbaros.
Narloch
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