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Acompanhando o crescimento da produção e do comércio, e para
ele contribuindo igualmente, verificou-se na segunda metade do século XIX a
ampliação dos meios e vias de transporte, de forma a dotar a província de
melhores estruturas para o escoamento das mercadorias em direção ao litoral.

DSC04280 A Modernização pelos Trilhos
Placa comemorativa do 1° centenário da Estrada de Ferro de Baturité (foto Rodrigo Paiva)

Após alguns planos que não saíram do papel, em 1870, o
governo provincial assinou com a Companhia Cearense da Via Férrea Baturité, um contrato para a construção de uma ferrovia ligando a capital à vila do mesmo
nome. Tal companhia tinha como diretores o Pe. Thomaz Pompeu de Souza Brasil (O
Senador Pompeu), Gonçalo Batista Vieira (Barão de Aquiraz), os comerciantes
Joaquim da Cunha Freire (Barão da Ibiapaba) e Henrique Broochlehurst, sócio da
firma R. Singlehurst e Cia – a popular Casa Inglesa – e o engenheiro José de Albuquerque
Cavalcante.
Em 1873 foi inaugurado o primeiro trecho da EFB entre
Fortaleza e o Arronches (atual Parangaba) e em 1876, o de Pacatuba. Havia planos
para estender os trilhos até o vale do Cariri, mas desde o início o
empreendimento teve problemas financeiros – daí os atrasos nas obras e os constantes
auxílios do governo.

DSC04282 A Modernização pelos Trilhos
Os trilhos da Estrada de Ferro e a antiga Estação de Baturité (foto Rodrigo Paiva)

Em 1878, a Estrada de Ferro Baturité acabou encampada pelo
governo imperial. Cinco anos depois os trilhos finalmente chegaram a Baturité.
Posteriormente, sucederam-se prolongamentos em direção ao sul cearense,
chegando ao Crato em 1926.
A Estrada de ferro trouxe benefícios à produção agrícola e
ao comércio do Ceará, facilitando o escoamento da produção sertaneja
(especialmente algodão e café) para Fortaleza e daí para os centros
consumidores do além-mar, e transportando a bens industrializados para o
interior. 
Em 1878, durante a calamitosa estiagem (1877-79) o governo imperial
determinou com seus recursos a construção de uma outra ferrovia no Ceará,
ligando Camocim a Sobral, na qual por caridade, foi usada a mão-de-obra
sertaneja. O trecho Camocim-Granja foi inaugurado em 1881 e em dezembro de
1882, inaugurada a estação de Sobral.

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Estação de Camocim da Estrada de Ferro de Sobral (foto Rodrigo Paiva) 

A construção da Estrada de ferro Sobral trouxe alguma prosperidade
para Camocim em detrimento de Acaraú, em virtude da decadência da histórica
rota comercial antes feita pelo porto desta cidade. O surto da borracha na
Amazônia na década de 1880 provocou euforia no norte cearense – o porto de
Camocim, por ser mais próximo da Amazônia viveu grande agitação, com o comércio
e a saída de cearenses para aquela região.
Com a ferrovia, Sobral incrementou o controle sobre o
centro-norte do Ceará e com os prolongamentos da EFS – para Crateús em 1912 e
Ibiapaba em 1918 – influenciou mesmo áreas do Piauí e Maranhão.
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Estação de Sobral foi inaugurada em 1882 como ponta de linha da Estrada de ferro de Sobral (foto de 1957 do site estações ferroviárias do Brasil) 

A cidade
conheceu igualmente uma fase de expansão urbana e aformoseamento (construção do Teatro São João, do Jockei Club, casas elegantes, etc.) em 1950, após muitas
interrupções, se concluiria a estrada de ligação entre a EFS e a EFB, iniciada
em 1910.
Além de várias estradas de rodagem abertas na segunda metade
do século XIX entre as vilas, ampliou-se a navegação de cabotagem no litoral
cearense. Até 1858, a única companhia marítima nacional a vapor que frequentava
a província era a Companhia Pernambucana, a qual enviava um único navio aos portos
locais. 

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teatro São João em Sobral, inaugurado em 1875 (foto do site da prefeitura de Sobral) 

A partir de 1865 por contratos do governo cearense outras companhias
começaram a fazer escalas nos portos do Ceará, como a Companhia de Navegação a
Vapor do Maranhão, a do Rio de Janeiro e algumas companhias estrangeiras.
Fortaleza assim passou a ter nos anos 1860, não só a primazia do comércio
direto com a Europa, favorecida pelas linhas de vapores ingleses e pelo
fechamento da Alfândega de Aracati em 1851, mas também com outras províncias 
uma vez que seu porto foi incluído nas rotas que se estendiam para a região
Sudeste, ligando-a aos mais importantes portos do País.

extraído do livro de Aírton de Farias
História do Ceará

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