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100_3802 A Cura pela Fé: O trabalho de Rezadeiras e Curandeiras
Dona Zilma Saturnina, rezadeira e moradora do Pirambu

Num misto de fé, prática cultural e medicina popular as rezadeiras mantêm viva a esperança de cura do corpo e da alma através da fé.  Não importa se o problema é mau-olhado, espinhela caída, briga de marido e mulher, ou quebranto: as rezadeiras, conhecem remédio e tratamento para tudo.  

Munidas de folhas e ervas medicinais, imagens de santos, rosários, oratórios e a palavra dita por intercessão de Deus e do Espírito Santo, as rezadeiras exercem seus conhecimentos.  Os gestos e rezas nunca são ensinados ou aprendidos, e sim revelados pelo divino.  

As rezadeiras tampouco cobram por seus trabalhos, e a atividade é realizada predominantemente por mulheres.  O tratamento é simples: com os ramos na mão a rezadeira faz o sinal da cruz no doente. Se a planta murchar, é sinal que as folhas capturaram o espirito maligno que martirizava o doente. 
A figura da rezadeira  se observa em todo o país, seja nas grandes cidades, seja nos municípios do interior. Estudiosos afirmam que a rezadeira de hoje  equivale às antigas feiticeiras das aldeias europeias: são pessoas que geralmente sabem utilizar as plantas medicinais da região em que vivem e combinam o uso destes medicamentos naturais com o ritual da benzedura. 

O processo de curar pela oração não é exclusividade de nenhuma religião; toda religião tem seu curador e seu método.  O curandeiro costuma acumular três habilidades: é raizeiro, pois sabe preparar  remédios com ervas medicinais e conhece sua aplicabilidade; é rezador, já que conhece orações e simpatias  para prevenir e resolver problemas físicos e espirituais  e é benzedor,  tendo em vista que exercita a cura usando símbolos de religiosidade como o sinal da cruz,  com ramos de ervas sobre o corpo do enfermo.  Conhecimentos adquiridos de pais e antepassados, transmitidos oralmente através das gerações.

Dependendo da região do país e da tradição oral de cada família, cada curador tem receitas especificas  para tipos distintos de problemas: são garrafadas, xaropes, chás e lambedores que servem para curar diversos males.

Por conta desses saberes de cunho não científicos, mas igualmente eficientes, a partir de 2004 foi instalada no Ceará uma escola para  a formação de profissionais para o Programa Saúde da Família (PSF). E ali foram feitos dois treinamentos com 250 rezadeiras –ou benzedeiras– cadastradas no serviço de saúde, além de cerca de 60 responsáveis por terreiros de umbanda.

No treinamento elas aprendem, por exemplo, a reconhecer manchas que podem ser de hanseníase, e encaminham o paciente ao posto de saúde. São orientadas a fazer isso também quando receberem uma criança que acreditam não poder tratar.  Com a presença do SUS (Sistema Único de Saúde) em todos os municípios e com o PSF, o choque entre rezadeiras e medicina vem diminuindo.

Oração de Santo Antônio (para as mulheres que tem problemas com o marido)
Santo Antônio pequenino.
Amansador de potro brabo
Amansai o coração de (nome do marido)
(A esposa responde)
(nome do marido), debaixo do meu pé esquerdo,
Eu te arremato, seja com uma, com duas ou três,
Que eu te parto o coração
Se estiver dormindo, não dormirás,
Se estiver pensando em outra mulher, não pensarás,  
Só terás descanso quando com quem viveres falar
Conta-me o que souberes, dai-me o que tiveres,
E parai com todas as mulheres do mundo,
Pois para ti pareço uma rosa, bela e fresca.
Um dos exemplos mais bem sucedidos da união de conhecimentos científico e popular de Fortaleza,  é praticada pelo Projeto Quatro Varas, realizado há mais de 20 anos no bairro  do Pirambu, comunidade que abriga cerca de 50 mil pessoas na periferia de Fortaleza. 

100_3807 A Cura pela Fé: O trabalho de Rezadeiras e Curandeiras
farmácia popular do projeto Quatro Varas

O projeto de iniciativa do Dr.  Adalberto Barreto, psiquiatra e antropólogo, que começou a reunir pessoas para discutir seus problemas,  à sombra de um cajueiro. Hoje, sentado no mesmo local, ele festeja a concretização de um projeto que atende mensalmente 1.200 pessoas e enfrenta, ao mesmo tempo, a patologia e o sofrimento. 

100_3812 A Cura pela Fé: O trabalho de Rezadeiras e Curandeiras
A rezadeira e algumas das crianças assistidas pelo projeto.

O local conta com um posto de saúde do PSF, onde se trabalha a patologia com o médico, o enfermeiro e o dentista, e um espaço onde se trabalha o sofrimento, com a massagem, a argila com pedras mornas, o banho de ervas e a reza com curandeiros.  Assim é possível aproveitar, de forma complementar, o saber dos especialistas e a sabedoria popular, que enfrenta o sofrimento, promovendo a saúde e reduzindo danos.


Fontes:
Jornal O Povo.
Folha online
http://pt.scribd.com/doc/20191561/REVISTA-RADIS1

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0 comentário

  1. Ah! que matéria linda! A Rezadeira lá de casa
    era a Dona Estelina…que mão, quando pedia
    folhas de pinhão(que ainda tem muito quintais e jardins das casas), para a reza, era cura certa.
    O ramo de pinhão, que sempre tinha no quintal lá de casa, ao final da reza ficava murchinho.
    Mas precisa ter FÉ!!!

    Beijo, Fátima.

  2. Estes tratamentos tem que ser Feitos com muito Amor, e fé, no nosso DEUS. e ele , Realizara então A cura. noz apenas somos o fio condutor de DEUS. comenta d,re Rogoff.

  3. Nossa! Achei o máximo!Cresci vendo rezadeira católicas,espíritas e hoje sou cristã evangélica,faço minhas orações com fé e Deus em nome de Jesus Cristo e sou atendida do mesmo modo. Tudo é a fé! Não importa a Religião, o importante é ter Jesus Cristo como mediador do amor de Deus.

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