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praia+formosa-1892 A Comissão Científica, Gonçalves Dias e os Dromedários
Aspecto da Praia Formosa (atual Iracema) em 1892 (arquivo Nirez)

O poeta
maranhense Gonçalves Dias (10.08.1823-3.11.1864) – esteve duas vezes no Ceará
no século XIX. Numa  das vezes veio como
integrante da Comissão Científica Exploradora, enviada pelo imperador Pedro II
ao Ceará, para estudos e pesquisas.

Esta
comissão inspirada pelo Instituto Histórico e Geográfico tinha à sua frente cientistas,
como Freire Alemão, Guilherme Schuch de Capanema, Manuel Ferreira Lagos,
Giácomo Raja Gabaglia (que terminou casando em Sobral com uma irmã do futuro
presidente da província, Jose Júlio de Albuquerque e Barros, depois Barão de
Sobral), e Gonçalves Dias, poeta e jornalista, escolhido por ser estudioso de
temas históricos, principalmente ligados aos indígenas. 
Fort+052aA A Comissão Científica, Gonçalves Dias e os Dromedários
A atual Rua Major Facundo no início do século XX (arquivo Nirez)

Fortaleza
era então uma cidade pequena, talvez com uns quinze mil habitantes. Essa
população teve motivos de sobra para se escandalizar ante o comportamento de
alguns dos integrantes da Comissão, que não cultivavam só a ciência.
Reverenciavam Baco e Vênus, com muito fervor.
Guilherme
Capanema, que diziam ser irmão do imperador D. Pedro II, era tão bom de copo a
ponto de ser (às vezes) encontrado pelas rondas noturnas em total estado de
embriaguez. Outro dos seus integrantes, o pintor José dos Reis Carvalho, além
de voraz consumidor de cachaça, gostava de desfilar com prostitutas na garupa
do cavalo. Certo dia, alguns deles tomaram banho nus, na praia fronteira ao
local onde hoje está o Passeio Público. 
expedi%C3%A7%C3%A3o+cientifica A Comissão Científica, Gonçalves Dias e os Dromedários
 Desenhos e aquarelas retratando as paisagens cearenses, foi um dos legados da Expedição Científica. Os trabalhos são de autoria do pintor José dos Reis Carvalho. 

Não andavam vestidos como pessoas
importantes, de sobrecasaca preta e chapéu alto, e sim, de camisas e ceroula. Diziam-se,
então, portadores de “uniforme científico”. 
Outro deles foi surrado por um marido zeloso quando encontrado no
interior de uma casa de família. Dirigiam galanteios atrevidos às senhoras. Tanto
aprontaram que a Comissão foi rebatizada de Comissão Defloradora.
No governo do
presidente José Martiniano de Alencar, fora assinada uma lei autorizando o
governo da província, a importar das Canárias ou do Egito, dois casais de
camelos. A lei “não pegou”. O certo, porém, é que com a presença de Capanema no
Ceará, a ideia foi ressuscitada e foram adquiridos catorze dromedários, quatro
machos e dez fêmeas, que chegaram a Fortaleza no dia 24 de julho de 1859,
acompanhados de quatro treinadores. 
dromedario A Comissão Científica, Gonçalves Dias e os Dromedários
Por interferência da Comissão Científica 14 dromedários foram trazidos para o Ceará numa tentativa de aclimatá-los. A experiência não deu certo.

Os animais
viriam substituir o cavalo e o boi, animais de carga, geralmente dizimados nas
secas. Em princípio deveriam ser divididos em dois lotes, um destinado ao
cônego Antônio Pinto de Mendonça, de Quixeramobim e o segundo ao futuro senador
Francisco de Paula Pessoa, de Sobral. Terminaram ficando em Fortaleza, depois
de devidamente privatizados.
A chegada dos
animais causou um grande alvoroço. Tendo um deles fugido do Deposito Municipal,
logo depois da chegada, por um triz escapou de ser abatido a tiros de bacamarte
pros lados do Arronches. Os bichos corriam espantados quando os viam pela
primeira vez. Os comboios se desfaziam na estrada, com as cavalgaduras
sacudindo selas e cangalhas. Os meninos choravam assustados e muita gente se
benzia e batias as portas diante da insólita aparição, a que o povo no seu
espanto e ingenuidade, chamava de anticristo.
expedi%C3%A7%C3%A3o_1859_acampamento A Comissão Científica, Gonçalves Dias e os Dromedários
 acampamento da expedição Científica em 1859. Um dos muitos nomes jocosos conferidos ao grupo foi  Expedição das Borboletas’, numa alusão à suposta superficialidade à qual ela se dedicava.

Capanema e
Gonçalves Dias decidiram ir a Baturité nos animais. Armaram na corcova do único
camelo manso, uma barraca que se assemelhava a ninho de joão-de-barro com uma
abertura lateral. Assim arreiado, trouxeram-no para o ponto de partida, no
coração da cidade. Fizeram-no abaixar-se, e em seguida, foi devidamente peado
para que não se levantasse.  Os dois
viajantes vestidos à moda científica montaram no animal. Tiraram as peias, e a
montaria levantou-se com tão violenta guinada para frente, seguida de outra
para trás, que quase sacode os viajantes fora da caranguejola em que se achavam
metidos. Compunham a caravana mais três camelos: dois carregados e um montado
por dois tratadores. 
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 José dos Reis Carvalho, pintor da Comissão, retratava o costume dos
sertanejos, tanto em festas quanto em situações menos alegres. Não há
maiores indicações sobre quando e onde essas imagens foram feitas

Os viajantes
não deram conta do recado. Enjoados e cansados, abandonaram a montaria perto de
Pacatuba e foram a pé, depois à cavalo, até o destino. O pintor francês F.
Biard, que visitou o Brasil em 1858, contou ter visto dromedários, passeando
pelas praias do Ceará e passou por mentiroso. Não era mentira, como se vê, os
animais existiram. E integraram o primeiro corso carnavalesco em Fortaleza.

Habituados
porém, ao areal do deserto, os animais não se deram bem com o solo pedregoso do Ceará, que lhes enchia os cascos de feridas que infeccionaram, os encheram de
bichos e os levaram à morte. Não deu certo a tentativa de aclimatação dos
dromedários no Nordeste. 

Do livro de
Lustosa da Costa
Louvação de
Fortaleza 

 imagens da expedição científica:
http://cienciahoje.uol.com.br

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mfgprodema@yahoo.com.br