O Pirambu está localizado no litoral oeste da cidade. No passado, finais do séc. XIX, a região do Pirambu, era uma vasta zona de praia, formada por dunas, areias alvíssimas, algumas lagoas e um ou outro casebre de pescadores, que preferiam habitar a região do Mucuripe ou da Praia de Iracema.
A área começou a ser ocupada a partir de emigrantes que
fugiam das secas, que periodicamente assolavam as cidades do interior do Estado, e das calamidades que as estiagens traziam,
fome, miséria, doenças, desemprego. Os governantes ficaram alerta pelos
problemas que precisaram enfrentar em estiagens anteriores, decorrentes do
aumento súbito da população, carente e faminta, e pensaram numa solução para
situações vindouras: Os Campos de Concentração.
Os retirantes da seca de 1932, que chegaram nos trens, foram isolados num dos tais espaços; cerca de 1800 pessoas ficaram no lugar hoje conhecido por Pirambu. Depois que passou o período crítico da seca, muitos voltaram para seu lugar de origem, e muitos ficaram em Fortaleza, no Pirambu. Os que desistiram de voltar construíram barracos, conseguiram trabalho nas fábricas que se instalaram ao longo da Avenida Francisco Sá e na rede ferroviária, nas oficinas do urubu. A vizinhança de poder aquisitivo reduzido, incomodou os ricos moradores do Jacarecanga, que iniciaram busca por novos locais de moradia.
As dunas foram ocupadas, as lagoas foram aterradas, os moradores se multiplicaram e o Pirambu se firmou como a maior favela de Fortaleza. O lugar não tinha nenhuma urbanização nem contava com infraestrutura, os terrenos tinham preços mais em conta para as famílias de migrantes. Haviam os que em muitas oportunidades os ocupavam clandestinamente, daí o crescimento irregular, com a propagação de lotes de tamanhos irregulares, casas modestas e favelas, becos e ruas estreitas, tortuosas e sem saída, e inexistência de espaços públicos e áreas de lazer. O bairro foi criado em 1932.
Os ocupantes do Pirambu já contavam em torno de 5 mil
pessoas, quando apareceram duas famílias alegando que eram donas da área, os
Braga Torres e os Carvalho. Pressionavam os moradores para que desocupassem as
terras ou vendessem os terrenos. Sentindo-se ameaçados, os moradores começaram
a se organizar, a se reunir. Mas não tinham uma liderança, não queriam
interferência política e não chegavam a um acordo sobre o que fazer.
Então convidaram o padre Hélio Campos, que havia pouco tempo
tinha se formado capelão da Marinha, e atuava na Igreja de Nossa Senhora dos
Navegantes. Corria o ano de 1958, quando descobriram que nem os Braga Torres e nem
os Carvalho eram donos da área. E sob a liderança do padre, iniciaram um
movimento pela manutenção da posse da terra, pela melhoria das condições
sociais e de moradia e contra novas ameaças de expulsão.
Com o aumento da ocupação da área, o Pirambu foi dividido em
vários bairros, embora a região situada entre o bairro Moura Brasil e a Barra
do Ceará continue sendo conhecido como o “Grande Pirambu”. Vários projetos,
associações e ONG's atuam na área do Grande Pirambu, na busca de melhorar a
qualidade de vida dos moradores, equacionar problemas estruturais e dessa
forma, mudar a história daquela região, contada por anos e anos de pobreza,
preconceito e exclusão social. De acordo com o IBGE (Censo de 2022), o Pirambu abriga a maior favela do Ceará.
Consultados:
https://www.ebc.com.br/especiais-agua/campos-de-concentracao
Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza, de Gisafran Nazareno Mota Jucá.
Fotos G1/Jornal Diário do Nordeste/IBGE/