governador eleito depois do longo período de exceção vivido no Brasil sob o
Governo Getúlio Vargas e Menezes Pimentel no Ceará. Eleito pela UDN, com apoio
de Olavo Oliveira e outras correntes, o velho magistrado mostrou desde cedo não
ter “jogo de cintura” para aparar as arestas políticas e conduzir em paz a sua
administração.
a questões ligadas à eterna divisão de cargos. Como não existia o vice, o
substituto do governador era, por princípio constitucional, o presidente da
Assembleia Legislativa, onde se encontrava o deputado Joaquim Bastos Gonçalves,
aliado político de Olavo Oliveira, seu compadre e fiel seguidor.
Faustino viu-se acuado dentro do Palácio da Luz.
Nas poucas
vezes em que foi obrigado a se ausentar do governo, Joaquim Bastos, em nome do “olavismo”,
desmontou seu esquema, demitindo secretários, nomeando outros, instalando o
caos administrativo. Havia ainda a versão de que o Presidente da Assembleia agia
em perfeita sintonia com o governador quando se faziam necessárias algumas mudanças
no governo.
rádio – àquela época existiam apenas duas, a Ceará Rádio Clube e a rádio
Iracema – esta pertencente aos irmãos Flávio e José Parente. Os irmãos Parente assumiram a oposição ao
governo de Faustino, aproveitando todos os deslizes políticos do governador
para desestabilizá-lo.
Faustino não era homem de deixar desaforo sem resposta. Um dia,
mandou invadir a Rádio Iracema, prendendo locutores e redatores. A rádio apoiada
na opinião pública e nos órgãos representativos da imprensa, passou a uma
programação provocativa contra Faustino, apelidando-o de “Chiquita Bacana”,
música carnavalesca de enorme sucesso na época.
O apelido surgiu quando o repórter Luciano Carneiro fora a Pacatuba
entrevistar o governador que convalescia em sua fazenda de uma indisposição
mais séria. Perguntado sobre sua recuperação, Faustino, sem aquela malícia
própria dos políticos, respondeu singelamente que ficara bom graças ao leite
puro de uma vaquinha chamada de “Chiquita Bacana”. Foi o que bastou para a
emissora soltar, inúmeras vezes, a gravação da marchinha de carnaval, na voz de
Emilinha Borba.
temperamento também incendiário, homem afeito á luta em várias frentes. O governador
ameaçou empastelar o “Diário do Povo”, o beligerante jornal de Jáder. Foi mais uma atitude precipitada do governador. Jáder abriu as baterias contra o governante, procurando leva-lo
ao ridículo.
No célebre “Dizem no Café Globo”, impiedosa coluna crítica do
Diário do Povo, Jáder contou que Faustino, como governador, fora a um festival
de música erudita no Teatro José de Alencar. No intervalo, num círculo de
intelectuais e artistas, alguém perguntou ao governador se ele apreciava mais a
música de Wagner, Beethoven ou Mozart, ao que ele teria respondido:
– em negócio
de música eu gosto mais daquela que fala do “pinião, pinião, pinião, pinto
correu com medo do gavião” (alusão a uma velha marchinha carnavalesca)
turbulento período governamental. Um dos episódios de maior repercussão e mais
desgaste para o governo foi o cerco que determinou à Faculdade de Direito, onde
os estudantes se concentraram decididos a resistir ao ataque da polícia
estadual.
– diziam os mais íntimos dele – Faustino de Albuquerque, um homem da área
jurídica, era teimoso e sem nenhum senso de humor para a política. E asseguram que o velho político costumava ouvir
conselhos do seu filho, Valmiki Albuquerque, a quem nomeou Secretário de
Educação. Valmiki seria um homem rancoroso, temperamental e criador de
problemas ao pai.
livro de Blanchard Girão
Sessão das Quatro – cenas e atores de um tempo
mais feliz
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Achei magnífica essa descrição de fatos que remontam os anos 40 em nossa capital. O que me fez desaguar nessa página foi a busca por referências em torno do ex-governador Faustino de Albuquerque.
Há alguns, quando eu escrevia o histórico da Cavalaria da Polícia Militar para ser publicado no portal da PMCE, deparei-me com a lei que extinguia o policiamento a cavalo no Ceará no ano de 1948 quando figurava como Governador o Desembargador Faustino de Albuquerque.
obrigada pela visita, Claudomiro, também acho bem interessante fazer uma análise dos antigos governantes, e chegar à conclusão que não foram muito diferentes dos atuais.
abs
Quero lhe informar que segundo informações de Romeu Gomes Paz, ex-vereador de Aratuba – hoje com 96 anos de idade, no maciço de Baturité, no primeiro ano do governo de Faustino de Albuquerque a polícia militar não desfilou no dia 07 de setembro por que não dispunha de fardamento adequado. A corporação, isto é, os soldados usavam fardas remendadas.
pois é Océlio, pra vc ver que já naquela época, os governantes já aprontavam… que vergonha!
A leitura desta página me fez recordar histórias contadas pelo meu avô, Antonio Jatai Sobrinho, que era aliado de Olavo Oliveira e foi Interventor no município de Tauá (1945 a 1947). Na verdade, um interventor que tinha um temperamento afável, de diálogo fácil e que nada se comparava aos perfis autoritários dos políticos da época.