O
ano de 1904 começou agitado em Fortaleza. Desde o dia 1° corria o boato de que
os trabalhadores do porto entrariam em greve. A população começou a ficar
inquieta, as famílias dos trabalhadores foram tomadas de verdadeiro pânico. O
motivo da paralisação segundo se afirmava, era a execução da lei do sorteio
militar. (Polêmica lei que instituía o serviço militar obrigatório e por
sorteio. Seus defensores alegavam que só trabalhadores braçais e sem
qualificação se apresentavam para servir ao exército. Com a adoção do sorteio,
todas as classes sociais passariam a ser recrutadas).
manhã do dia 3 de janeiro, um domingo, chegara o paquete Maranhão. Notava-se no
porto de desembarque, uma movimentação fora do normal, uma agitação, um
corre-corre de populares e de homens do mar. As sete horas, explodiu o
movimento paredista. Aderiram, logo no início, os catraieiros e demais
empregados no tráfego marítimo. Os que não aderiram espontaneamente, foram
forçados pelos grevistas.
pouco tempo, a rebeldia estava generalizada. Os 300 passageiros do Maranhão
tiveram de ficar a bordo, sem possibilidade de pisar em terra por falta de condução.
Em razão disso, avisado do ocorrido, o capitão-tenente Luís Lopes da Cruz –
apelidado de De La Croix pelo jornalista João Brígido – Comandante dos Portos,
homem violento e de temperamento exaltado, não contemporizou. Em vez de tentar
um entendimento com os grevistas, para tentar resolver o problema, optou por
pedir auxílio da força armada.
8 horas, o comandante De La Croix determinou, mesmo naquele ambiente tenso,
carregado de revolta geral, que a baleeira da capitania seguisse em direção ao
navio, a fim de providenciar o desembarque dos passageiros que lá se
encontravam retidos.
gesto do comandante foi recebido como uma afronta pelos catraieiros;
aglomerados, em represália, impediram a saída do bote, que foi virado, e teve
os remos quebrados. Sentindo-se desacatado em sua autoridade, o comandante
requisitou força armada para manter sua determinação.
Imediatamente
seguiu para o porto um contingente de soldados do Batalhão de Segurança, sob o
comando do coronel Cabral da Silveira. A baleeira, guardada pela polícia
conseguiu deixar a ponte em direção ao Paquete Maranhão.
paus e achas de lenha, exaltados ao extremo, tentaram impedir o desembarque. Em
resposta, os soldados abriram fogo contra os manifestantes. A fuzilaria
irrompeu violenta, durou alguns minutos, suficientes para deixar um saldo de
três mortos e quarenta feridos, todos trabalhadores do porto. Terminado o
tiroteio, a ponte e o mar estavam vermelhos de sangue.
noite a cidade ficou em vigília, o conflito abalou a população, houve protestos
em todos os setores da sociedade. No dia seguinte, uma multidão acompanhou o
sepultamento dos catraieiros que morreram no confronto. Na tarde daquele mesmo
dia é que se deu o desembarque dos passageiros do Maranhão, por meio de
escaleres da Polícia, e da Alfândega.
greve continuou acirrada, e os jornais em longos editoriais, faziam
pesadas críticas ao Capitão dos Portos que mandara fuzilar os trabalhadores em
greve. Na praia, manteve-se um contingente policial durante todo o dia, com o
objetivo de manter a ordem. Na Secretaria de Justiça foi instaurado rigoroso
inquérito para apurar as responsabilidades.
uma verdadeira romaria se formou na porta do Palácio do Governo, onde várias
autoridades foram protestar junto ao presidente do Estado, Dr. Pedro Borges (12 de julho de 1900-12 de julho de 1904), pelo massacre dos
trabalhadores do porto.
mesmo mês o Governo Federal mandou demitir o Comandante dos Portos e ordenou
sua imediata saída de Fortaleza.
anos depois, o ex comandante foi assassinado com dois tiros, em plena capital
federal, a porta do Clube Naval por alguém que nunca foi identificado.
que o Tempo Levou, de Raimundo de Menezes
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