A chegada do trem
e da Estação da Estrada de Ferro Baturité representou um grande progresso para
a cidade provinciana que era Fortaleza. E veio aos poucos, primeiro, uma estação
improvisada, um percurso que foi sendo ampliado à medida que aumentavam os
recursos financeiros e a demanda pelo transporte.
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Estação João Felipe, na Praça Castro Carrera, Centro |
Em 1925, já em
poder da Rede de Viação Cearense, a rede ferroviária iniciou a construção de
sua oficina, com projeto do engenheiro Emílio Henrique Baumgart. Era um projeto
grandioso, composto de oficinas de montagem e reparação de locomotivas,
reparação de carros e vagões, pintura de carros e vagões, fundição, ferraria, casa de força (termoelétrica), almoxarifado e administração. O
projeto previa 12 pontes rolantes, formando um conjunto harmônico em 16 mil
metros quadrados de área edificada com concreto armado
As novas oficinas da Rede Viação Cearense (RVC) foram inauguradas em 04 de outubro de 1930. O espaço estava apto para atender 125 locomotivas e 1200 carros de passageiros e carga. Foi considerada a oficina ferroviária mais completa do país, admirada por muitos como uma obra prima da engenharia nacional. Foi construída em terras do Sítio Santo Antônio da Floresta, doadas pelo coronel Antônio Joaquim de Carvalho, que tinha interesse em valorizar suas terras. O empreendimento ficou conhecido como “Oficina do Urubu” porque havia nas proximidades um grande aterro de lixo, que atraía muitas aves da espécie. A própria avenida era chamada informalmente de “Estrada do Urubu”, atualmente chama-se Avenida Francisco Sá.
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Oficina do Urubu |
Ao mesmo tempo que
construía novas locomotivas e fazia manutenção em máquinas e equipamentos
utilizados no funcionamento das locomotivas, as Oficinas do Urubu passaram a
funcionar como centro de treinamento e habilitação de trabalhadores e espaço de
formação de alunos aprendizes do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial).
O Ensino
profissional e Industrial foi instituído em 1937, pela Constituição promulgada
no governo Getúlio Vargas, que definiu que as indústrias e os sindicatos
econômicos deveriam criar escolas de aprendizes na esfera da sua especialidade.
No Ceará, o nascimento do SENAI está ligado ao Centro Ferroviário de Ensino e
Seleção Profissional de São Paulo. Dessa relação foi criada a Escola
Profissional de Fortaleza, que tinha como diretor Antonio Urbano de Almeida,
chefe das oficinas do Urubu, nomeado em 1943 administrador do SENAI Ceará. Em
1944, foi firmado plano entre a RVC e o SENAI para oferecimento de diversos
cursos que foram ministrados nas oficinas da RVC.
Assim, a nova
oficina era local de trabalho, manutenção e construção das locomotivas, e
espaço de formação dos aprendizes e alunos do curso do SENAI. A preocupação com
a formação dos trabalhadores incluía como pano de fundo a necessidade de mão de
obra qualificada para atender à crescente demanda da indústria nacional por
operários, que além dos conhecimentos básicos precisavam deter, sobretudo, os
conhecimentos técnicos para operar, consertar e fabricar o maquinário presente
nas empresas.
Em 1951 denominou-se este complexo de Demostenes Rockert. A Rede de Viação Cearense (RVC) foi extinta em 1975, quando foi transformada em 2ª Divisão Cearense pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que a havia incorporado em 1957. A RFFSA, por sua vez, foi extinta em 2007. Atualmente as antigas Oficinas do Urubu fazem parte da Ferrovia Transnordestina. Fica na Avenida Francisco Sá, 4289.
LASTROS DE UM
PASSADO INDUSTRIAL E FERROVIÁRIO EM FORTALEZA: O
PATRIMÔNIO
CULTURAL EDIFICADO DAS “OFICINAS DO URUBU” TAINAH RODRIGUES FAÇANHA
file:///C:/Users/mfati/Downloads/2022_dis_trfa%C3%A7anha%20(1).pdf
Fotos Museu Ferroviário